A CONDESSA VÃSPER Aluà sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...
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— Espere! disse ela, afastando a mão de Gabriel prestes a empolgar-lhe<br />
a cintura, e retomou friamente o fio das suas considerações. Infelizmente,<br />
porém, não nos podemos unir pelos laços legais, porque sou casada; estou,<br />
entretanto, resolvida a esquecer totalmente a peste de meu marido, rejeitar a<br />
mesada que em nome dele me dá o curador....<br />
— E...<br />
— E fazer-me sua. Quer?<br />
— Se quero, meu amor!...<br />
— Pois bem; nesse caso, procure uma boa casa onde possamos esconder<br />
decentemente a legalidade da nossa ternura, prepare-a com o luxo e conforto<br />
correspondentes à minha educação: e se estiver o senhor, além disso, resolvido<br />
a fazer por mim os sacrifícios que faria se fosse meu marido, serei sua,<br />
inteiramente sua, para toda a vida. Serve-lhe?...<br />
— Se me serve!...<br />
— Então, é tratar da casa; pronta esta, eu o acompanharei.<br />
— Obrigado! obrigado! disse Gabriel num transporte de alegria. Como<br />
sou feliz! Deixe dar-lhe um abraço!<br />
— Não! por ora... nada! Vá-se embora.<br />
— Suplico!<br />
— Nada! nada!<br />
— Então, meu anjo?!...<br />
— Solte-me! ou desisto de tudo o que disse!<br />
— Má!<br />
— Adeus, adeus.<br />
— Ingrata!<br />
— Está bom! Tome lá um beijo, mas é dá-lo e pôr-se a caminho!<br />
E Ambrosina estendeu os lábios ao futuro amante, que se precipitou<br />
sobre eles como se os fora devorar.<br />
— Está bem! Basta! disse ela... até à volta.<br />
E desapareceu.<br />
Ele saiu de lá quase a correr, mal acompanhando todavia a andadura do<br />
seu coração, que galopava.<br />
O resto da noite passou-o todo a pensar, a sonhar com os<br />
deslumbramentos da sua futura existência de amor.<br />
Gaspar demorava-se em Petrópolis.<br />
Às dez horas da manhã do dia seguinte, já Gabriel ganhava a rua, mas<br />
sem saber ao certo por onde principiar a pôr em prática as ordens da sua<br />
dama. Estava indeciso. Como não tinha experiência da vida, nem hábito de<br />
trabalho, tudo para ele era dificuldade.<br />
Em primeiro lugar, urgia descobrir uma boa casinha, meditava,<br />
procurando dar direção ao seu raciocínio. Ora, em qual dos arrabaldes devia<br />
ser?... Eram tantos!... Diabo! ela devia ter escolhido o lugar!...<br />
— Adeuzinho, doutor! gritou-lhe o Melo Rosa, que passava nessa<br />
ocasião, com um ar de atividade.<br />
Isto era na rua do Ouvidor. Gabriel chamou-o. interessado.<br />
— Venha cá! Como vai? Você é quem me podia fazer um favor!....<br />
— Homem, filho! ando muito cheio de serviço... tenho afazeres até aqui!<br />
E o Melo mostrava a garganta.<br />
— Sim, mas é cousa que se pode decidir em palavras. Você onde vai<br />
agora?...<br />
— Almoçar, e depois...<br />
Nesse caso, almoce comigo, e durante o almoço conversaremos.<br />
Os dois tomaram a rua do Teatro e meteram-se num gabinete particular<br />
do hotel Paris. Melo encarregou-se do menu.<br />
— Imagine que eu, segredou-lhe Gabriel, preciso preparar uma casa em<br />
regra para...<br />
O Melo largou tudo de mão, dominado por essas palavras.<br />
— Vais casar?... perguntou ele, fitando Gabriel por cima das lunetas.<br />
— Pouco mais ou menos... disse o interrogado.<br />
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