A CONDESSA VÃSPER Aluà sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...
A CONDESSA VÃSPER Aluà sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...
A CONDESSA VÃSPER Aluà sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
— Você não tem algum neto, Jacó?<br />
— Qual, meu senhor! essa fortuna não é para este pobre velho; o meu<br />
Ernesto morreu aos quinze anos, e depois disso não tive mais parentes, nem<br />
felicidade completa...<br />
E o desgraçado chorava.<br />
— Está bom! está bom! atalhou Gaspar; deixemo-nos de recordações<br />
penosas e vá arranjar-me charutos.<br />
O criado saiu, vergando sob os seus sessenta anos e arrastando<br />
pacificamente os seus sapatões de bezerro, engraxado. O filho do coronel<br />
reparou então que havia na saleta uma biblioteca; colheu um Espronceda e leu<br />
distraidamente alguns versos. O velho voltou com os charutos, e perguntou se<br />
o amo queria jantar mesmo no quarto ou se resolvia a passar ao "comedor".<br />
— Diga à senhora que faça como melhor entender, respondeu ele.<br />
— D. Violante já está à mesa e conta que meu amo lhe fará companhia.<br />
— Nesse caso, irei.<br />
E Gaspar, sem saber por que, teve uma alegriazinha com descobrir que a<br />
sua misteriosa feiticeira se chamava Violante.<br />
A sala de jantar era pequenita, alegre; paredes guarnecidas de aquarelas<br />
espanholas. Havia distinção no gosto que presidia à escolha dos móveis, e um<br />
certo perfume artístico na disposição dos bronzes e dos cristais. Sentia-se logo<br />
que ali palpitava um espírito caprichoso e romanesco.<br />
Gaspar, mal entrou, correu a apertar a mão da sua benfeitora; e ela,<br />
sorrindo, felicitou-o pelo seu completo restabelecimento.<br />
— Só à senhora o devo, que foi o meu bom anjo; e acho tão delicioso<br />
este sonho, que receio acordar...<br />
— Acordará quando eu lhe disser francamente a situação em que nos<br />
achamos... Mas desde já o previno de que tenho um grande favor a pedir-lhe...<br />
— Será minha maior ventura! Desde já...<br />
— Não prometa ainda, porque a cousa é muito mais séria do que o<br />
senhor se persuade...<br />
— Estou convencido, todavia, de que a senhora não exigirá que eu<br />
cometa algum crime ou alguma infâmia!...<br />
— Quem sabe lá?... disse preocupada a bela mulher.<br />
— Sei eu! aposto, arrisco tudo! Desde já prometo cumprir as suas ordens<br />
com a submissão de um escravo.<br />
— O senhor é casado?...<br />
— Não, minha senhora.<br />
— Bem! então tudo se poderá arranjar... O senhor vai passar por meu<br />
marido.<br />
— Como?...<br />
— Daqui a pouco saberá. Jantemos primeiro, teremos depois tempo para<br />
conversar.<br />
22<br />
V<br />
REFLUXO DO PASSADO<br />
22