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A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

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Esse moço era, um punhado de anos mais tarde, o jovial e próspero<br />

comendador Moscoso.<br />

Ao sair da casa do coronel, Moscoso jurou vingar-se. Atravessou a rua<br />

apoplético e, metendo-se no cubículo que lhe servia de quarto de dormir,<br />

atirou-se ao catre com uma explosão de soluços.<br />

À noite escaldava de febre. Foi uma noite de vertigem, cálculos de<br />

fortuna e planos de vingança. O caixeiro via-se mentalmente a economizar, a<br />

passar misérias, para ajuntar pecúlio e armar um princípio sólido de vida. As<br />

fontes estalavam-lhe. Sonhava-se rico, já cercado de considerações,<br />

levantando inveja nos vencidos, abrindo por todos os lados cumprimentos e<br />

sorrisos de adulação. Então é que aquele triste do coronel havia de saber o que<br />

era bom! Oh! ele, o pobre caixeiro, seria implacável no seu ódio! o coronel<br />

havia de pagar duro! havia de puxar pelas orelhas sem deitar sangue; havia de<br />

arrepender-se de lhe não ter dado a filha! Moscoso havia de ver Anita<br />

amarrada a um diabo, que a enchesse de maus tratos e necessidades! O<br />

tempo é que havia de mostrar<br />

E inteiramente devorado por estas idéias, o caixeiro virava-se e reviravase<br />

na cama, sem conciliar o sono.<br />

Amanhecera abatido, cheio de febre e possuído de uma grande má<br />

vontade por tudo e por todos.<br />

Desde então principiou para ele uma nova existência. Tinha uma idéia<br />

fixa: tratava-se agora de ajuntar dinheiro; estava disposto a suportar tudo,<br />

contanto que o capital se fizesse e avultasse!<br />

Moscoso principiou por mudar de gênero de comércio; meteu-se para a<br />

rua da Saúde, arranjando-se em uma casa de café.<br />

E o grande fato é que, ao fim de algum tempo, todo o seu esforço<br />

principiava já a produzir o desejado efeito, e o caixeiro contava todos os meses<br />

o fruto das suas economias, amontoadas com o sacrifício de todos os<br />

instantes.<br />

Pôde então realizar uma idéia, que lhe trabalhava havia muito no<br />

cérebro: escrever no Jornal do Comércio uma série de mofinas contra o<br />

coronel.<br />

Moscoso, uma noite depois do trabalho, foi à redação daquela folha e<br />

entregou a primeira à publicação.<br />

A mofina dizia assim:<br />

"Pergunta-se ao coronel Pinto Leite por que razão S. S. não entra em<br />

explicação de contas a respeito de certa viúva da cidade?... — A sentinela."<br />

Consistiu nestas estranhas palavras a primeira mofina do comendador.<br />

Ninguém as sabia explicar, não tinham fundamento algum, eram inventadas;<br />

mas quem as lesse ficaria com o juízo suspenso, diria talvez consigo que ali<br />

andava misteriosa e grossa maroteira; e era isso justamente o que Moscoso<br />

desejava, era levantar dúvida, promover desconfiança, arranjar qualquer<br />

prevenção contra o coronel.<br />

Este, quando viu a mofina, riu-se, persuadindo-se vítima de algum<br />

engano. Mas em breve se convenceu do contrário, porque o fato começou a<br />

repetir-se.<br />

Moscoso punha já de parte certa verba para aquela despesa; a mofina<br />

entrou no seu orçamento ao lado do dinheiro para o cabeleireiro e para o rol<br />

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