27.11.2014 Views

A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

— Aqui está o bote! disse o velho, apontando para um escaler preso ao<br />

cais. Isto é decidido! Corre que nem um carapau!<br />

A embarcação, nova e garbosa, balouçava-se voluptuosamente na<br />

cadência da vaga.<br />

Fazia um tempo abrasador e cheio de luz.<br />

A baía reverberava ao sol. As montanhas erguiam-se cruamente do seio<br />

das águas, que as refletiam por inteiro.<br />

Havia dois homens no escaler. O velho entrou nele agilmente e, depois<br />

de ajudar Gabriel a embarcar, assentou-se ao leme, e gritou para aqueles em<br />

voz de comando:<br />

— Toca!<br />

Abriram-se os remos, e o bote ganhou a baía arrancando um galão farto<br />

de cada vigorosa braceagem dos tripulantes.<br />

Em breve distanciaram da terra, deixando atrás a fortaleza de<br />

Villegaignon.<br />

O velho ergueu então a cabeça. O seu primitivo ar de ingenuidade<br />

desaparecera de todo, substituído por uma áspera catadura de lobo do mar.<br />

— Ao largo! disse ele com autoridade.<br />

— Para onde diabo vamos nós? perguntou Gabriel.<br />

Não lhe responderam.<br />

— Onde fica a tal ilha?<br />

O mesmo silêncio.<br />

— Mas, com todos os diabos! você zombam de mim?!<br />

O velho, sem desfranzir as sobrancelhas, tirou do peito uma carta e<br />

entregou-a ao seu interlocutor.<br />

Era de Melo Rosa e dizia o seguinte:<br />

"Caro Sr. Dr. Gabriel.<br />

"Ao ler esta, estará V. S. cheio de apreensões e receios. Dissolva-os —<br />

nada lhe sucederá, a não ser o malogro da partida com Ambrosina.<br />

"V. S. recuperará a sua liberdade somente à meia-noite, quando a<br />

referida senhora já se achará comigo em viagem para fora do Império. Os<br />

homens, que V. S. tem defronte de si e que o guardam à vista, são de<br />

confiança e estão pagos para não o deixarem fugir; escusa, por conseguinte,<br />

tentar qualquer meio que for de encontro ao que determinei.<br />

"Sinto que isto o faça ficar desapontado; mas o que quer? Tenho paixão<br />

por Ambrosina; ela consentiu em acompanhar-me, e eu lancei mão dos meios<br />

que pude para consegui-lo.<br />

"Adeus e perdoe-me, se não pude evitar o desgosto que lhe dou.<br />

"Seu amigo e criado. — M. R.".<br />

Quando Gabriel acabou de ler a carta, os remadores haviam já recolhido<br />

os remos, e o escaler permanecia no mesmo ponto, a jogar suavemente à<br />

mercê das ondas.<br />

O amante traído sentia-se estrangular pela raiva. Crescia-lhe na<br />

garganta um novelo áspero que sufocava.<br />

Suas primeiras palavras foram para pedir água. O velho apresentou-lhe<br />

uma ancoreta cheia dágua e uma garrafa de conhaque.<br />

Gabriel bebeu de ambos e ergueu-se.<br />

— Querem você enriquecer hoje mesmo?! perguntou ele aos homens.<br />

Estes voltaram apenas o rosto.<br />

— Dou-lhes uma boa quantia, se me puserem já em terra!<br />

O velho sorriu e meneou negativamente a cabeça.<br />

— Raios os partam! Miseráveis! exclamou Gabriel a esmagar na mão<br />

fechada em soco o seu chapéu de feltro.<br />

Consultou o relógio; marcava três e meia. Se aquele maldito velho<br />

quisesse, ainda havia tempo de alcançar Ambrosina!<br />

Pense bem... disse-lhe em voz baixa. O Senhor está velho, precisa<br />

descansar... Eu sou rico... posso dar-lhe com que adoçar os seus últimos<br />

dias...<br />

— Quanto?...<br />

123<br />

123

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!