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A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

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O pai de Ambrosina comprara as dívidas do adversário, que montariam a<br />

uns dez contos de réis.<br />

Foi sacrifício, mas o perverso não desdenhou arrostá-lo para dar pasto à<br />

sua vingança.<br />

O coronel tinha de entrar com aquela quantia dentro de vinte e quatro<br />

horas.<br />

— Onde iria ele de pronto, buscar esse dinheiro... E o pobre do coronel<br />

olhou abstratamente para o meirinho, depois para o filho, em seguida para<br />

Gabriel, e por fim escondeu o rosto nas mãos e ficou a cismar, completamente<br />

possuído pela sua perplexidade.<br />

Gabriel, porém, apossou-se da intimação, e disse alegremente ao<br />

veterano.<br />

— Não lhe dê isso cuidado, meu amigo. Lembre-se de que sou filho de<br />

Violante! O senhor pode perfeitamente pagar o triplo dessa importância, sem o<br />

menor constrangimento.<br />

E, voltando-se para o meirinho, acrescentou com a voz calma e resoluta:<br />

— Retire-se! O senhor coronel Pinto Leite entrará com o dinheiro.<br />

E, antes de esgotado o prazo fatal, já o belo moço tinha com efeito pago<br />

as dívidas do benfeitor de sua mãe.<br />

Mas, para liquidar a transação, foi-lhe necessário entender-se<br />

diretamente com o comendador Moscoso, que estava de cara à banda porque<br />

contava que o coronel nunca pudesse pagar as dívidas.<br />

Gabriel, para dar caráter mais espetaculoso ao negócio, preferiu que o<br />

credor o recebesse em sua casa particular.<br />

Moscoso marcou-lhe uma entrevista às sete horas da noite.<br />

Gabriel apresentou-se. Veiu recebê-lo Ambrosina.<br />

— Como! pois V. Exa. é filha do comendador?<br />

— É verdade, sou. Não sabia?<br />

— Ignorava-o totalmente. Como tem passado?<br />

— Bem. E o senhor?<br />

— Eu... um pouco pior depois que sei o que acabo de saber...<br />

— Ora, essa! por quê?...<br />

— Ainda não lhe posso dizer a razão...<br />

E os dois, que já se conheciam, olharam-se de um modo estranho.<br />

67<br />

XVI<br />

A FORMOSA AMBROSINA<br />

A filha do comendador estava mulher, e mulher bela.<br />

Aquela criança, franzina e linfática, se transformara em uma mulher<br />

encantadora e forte.<br />

A não ser os olhos, que foram sempre formosos, toda ela se havia<br />

metamorfoseado. O pescoço, os braços e os quadris enriqueceram-se de<br />

graciosas curvas, o cabelo fez-se volumoso, a tez pálida e fresca, os ombros<br />

um primor de estatuária, a boca um ninho de sorrisos cor-de-rosa e cor de<br />

pérola.<br />

Toda ela respirava, porém, uma híbrida fascinação de anjo e de<br />

demônio. Os seus lindos olhos verde-escuros, tanto poderiam servir para<br />

ensinar o caminho do céu, como o caminho do inferno.<br />

Havia alguma cousa do pecado de Eva paradisíaca na elasticidade ofídia<br />

67

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