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A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

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vamos precisar de um de desenho e um substituto de português primário; o<br />

que aí está vai tratar-se em Barra Mansa...<br />

O rosto de Gustavo tomou logo uma expressão mais animada; o velho,<br />

porém, o observava de alto a baixo, com gesto de desconfiança e desagrado.<br />

— São justamente as matérias que poderei ensinar melhor. Meu pai era<br />

oriental e deu-me lições de espanhol desde muito cedo; no português também<br />

estou bem preparado, porque ultimamente tenho estudado com esperança de<br />

um concurso; quanto ao desenho, sei o suficiente para ensinar em colégio.<br />

O velho, sentado comodamente em uma cadeira de braços, havia já<br />

apertado os olhos três ou quatro vezes, esticando os lábios, como quem<br />

medita; e depois, a esfregar as mãos nas coxas, perguntou:<br />

— Trouxe consigo os seus atestados?...<br />

— Que atestados?...<br />

— É boa! de professor..<br />

— Ah! Eu não tenho atestados... nunca fui professor... desejo justamente<br />

principiar agora...<br />

— E olhe que não principia muito tarde!<br />

E o velho, levantando-se resolutamente, convidou-o a sair com estas<br />

palavras:<br />

— Pois, meu caro senhor, sinto muito não lhe ser agradável; mas...<br />

neste colégio só se admitem professores garantidos pela Instrução Pública.<br />

— Mas, eu me submeto a exame, disse Gustavo, já também de pé; e se<br />

não estiver habilitado...<br />

— Hei de pensar nisso! respondeu o diretor, sem mais procurar disfarçar<br />

a sua impaciência.<br />

E fez um gesto com a mão aberta, o qual tanto podia significar "Passe<br />

bem!" como "Ponha-se a fresco!"<br />

Gustavo saiu, sem dizer uma palavra; no corredor fez uma mesura.<br />

— Viva! bocejou o velho, fechando a porta com estrondo.<br />

O boêmio desceu as escadas furioso, mas sem desanimar, continuou a<br />

farejar trabalho pelos colégios. Uns não precisavam de professor; outros não o<br />

podiam admitir, porque ele era muito moço; outros não diziam a razão porque<br />

não queriam; outros voltaram à questão dos atestados, e todos o olhavam<br />

com a mesma desconfiança e o despediam com a mesma sem-cerimônia.<br />

Ao meio-dia, Gustavo achava-se em Botafogo, defronte de um colégio de<br />

muito boa aparência.<br />

Havia um homem na chácara; o rapaz disse, mesmo da rua, que<br />

desejava falar ao Sr. diretor.<br />

— Não há diretor! respondeu secamente o homem.<br />

— Este ao menos é original! pensou Gustavo, quase risonho.<br />

— Então, com quem posso entender-me?...<br />

— Com a diretora .<br />

— Ah! É colégio de meninas!... Tenha a bondade de dizer à Sra. diretora<br />

que eu desejo falar-lhe.<br />

O homem subiu uma escada de pedra, e pouco depois veio abrir o<br />

portão.<br />

Que podia subir!<br />

Uma mulher conduziu-o à primeira sala. Era um lugar decente, sério,<br />

rigorosamente mobiliado; nas alvas paredes havia finas gravuras<br />

representando assuntos religiosos.<br />

Esperou cinco minutos. Depois abriu-se uma porta, e a mulher que o<br />

conduziu fê-lo entrar para outra sala. Achou-se então Gustavo defronte de três<br />

irmãs de caridade, dentre as quais a mais velha se adiantou para ele, com os<br />

olhos cravados no chão, as mãos engolidas pelas largas mangas do seu burel,<br />

e a cabeça toucada pelo característico e formidável lenço de linho engomado.<br />

Gustavo vergou-se cortesmente e, por hábito social, estendeu a mão às<br />

religiosas, que logo se contraíram num escrúpulo freirático, rechupando mais<br />

os olhos e escondendo mais as mãos.<br />

— V. V. Ex. as desculpem-me... balbuciou o moço, meio confuso;<br />

incomodeia-as, na persuasão de encontrar aqui o que fazer como professor...<br />

— Ah! é professor?...<br />

— Sim, minha senhora, respondeu ele, a reparar que uma das duas<br />

irmãs retropostas era bem bonita rapariga.<br />

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