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A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

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O comendador babava-se pela filha e não media dinheiro para lhe dar o<br />

que ele chamava uma boa educação: o belo mestre de francês, mestre de<br />

piano, mestre de canto, mestre de dança, mestre de gramática e de retórica.<br />

Ambrosina, entretanto, logo que começou a fazer-se rapariga, dava-se<br />

com mais amor do que tudo isso à leitura dos romances franceses. Sabia de<br />

cor a Dama das Camélias, o Rafael, Olímpia de Clêves, Monsieur de Carmors e<br />

outras quejandas encantadoras vias de corrupção. Muita vez tinham que lhe<br />

guardar o jantar, porque ela não queria largar o diabo do livro!<br />

O pai dizia-lhe:<br />

— Olha lá, minha jóia! não vá isso fazer-te mal!... mas não se animava a<br />

contrariá-la.<br />

Ela não lhe dava ouvidos, e aparecia às vezes visivelmente excitada, com<br />

os olhos lacrimosos, o ar cheio de fastio, de má vontade e de maus modos.<br />

A mãe acudia-lhe com repreensões, porém o pai intervinha a favor da<br />

filha, e acabava sempre, para a esta tranqüilizar de todo, lhe prometendo<br />

trazer um vestido novo e quatro velhos romances de Alexandre Dumas.<br />

— Você está mas é estragando a pequena com essas bobagens! dizia<br />

Genoveva ao marido, com uma voz mole, como se saísse de uma boca de<br />

manteiga. Eu nunca tive desses mimos!...<br />

— E é justamente por isso que é quem é! replicava o comendador, pondo<br />

em sua frase uma intenção sutil e profunda. Le monde marche, minha rica<br />

senhora! e se fôssemos a ser o que foram nossos avós, você seria a estas<br />

horas... nem sei mesmo o quê!...<br />

— Se eu fosse o que foi minha avó, seria muito boa lavadeira. Minha<br />

mãe dizia constantemente que minha avó era a melhor lavadeira do Rocio<br />

Pequeno!<br />

— Ora, não esteja aí a dizer blasfêmias! repreendia o pai de Ambrosina a<br />

olhar para os lados. A senhora não sabe ao certo o que é, quanto mais o que<br />

foi sua avó torta! Ora; pelo amor de Deus, dona Genoveva!<br />

A Genoveva afastava-se, sem ânimo de protestar contra os remoques do<br />

marido.<br />

— O diacho do homem sempre tinha uns repentes! Credo!<br />

E assim cresceu Ambrosina fêz-se mocetona, entre os enervantes zelos<br />

do pai e as inércias do amor de Genoveva.<br />

Reunia-se gente quase todas as noites em casa do comendador, e faziase<br />

um cavaco antes do chá. Ambrosina solfejava ao piano; as visitas fumavam<br />

ou bebiam cerveja, e o dono da casa falava de política ou de negócios.<br />

Entre essa gente destacava-se D. Ursulina, casada com um negociante<br />

inglês, que se tornava muito notável entre os de sua raça, porque jamais ia<br />

além do primeiro copo. Tinha o casal duas filhas, uma das quais fazia as<br />

delícias dos rapazes namoradores, e a outra os cuidados da mãe, que<br />

enxergava nela, com olhos experimentados, todas as qualidades precursoras<br />

de um eterno celibato.<br />

A namoradeira chamava-se Emília e acudia o chistoso nome de Nhanhã<br />

Miló; a outra era pura e simplesmente Eugênia. Uma bonita; e a ontra<br />

simpática.<br />

Miló era travessa, alegre, faceira; tinha os olhos vivos, a língua solta, o<br />

pé ligeiro e um moreninho delicioso. A outra era tristonha e pálida, de olhos<br />

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