A CONDESSA VÃSPER Aluà sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...
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Gabriel assustou-se.<br />
— É que não posso ver ninguém iludido! despejou o cocheiro. Sei que<br />
vossemecê projeta uma viagem com D. Ambrosina, e sei também que o Melo<br />
Rosa anda a desencabeçar a moça para não ir!<br />
— O Melo Rosa?... Mas que diabo pretende esse tipo?<br />
— Ora, o que há de ser? Quer que a Sra. D. Ambrosina, em vez de<br />
acompanhar a vossemecê, fique na companhia dele! Aí está!<br />
— E Ambrosina o que diz?...<br />
— Isso lá é que não sei! Tola será ela, se largar um moço formado, bem<br />
parecido, bom e rico, como vossemecê, por um troca-tintas daquela força!<br />
— Tu não sabes o que são as mulheres, Jorge!<br />
— O que lhe afianço é que faz tudo, o tratante, para seduzi-la. Tenha a<br />
bondade de ler esta carta...<br />
Gabriel leu no papel que lhe passou o cocheiro:<br />
"D. Ambrosina.<br />
Apesar de me haver a senhora proibido falar-lhe sobre qualquer assunto;<br />
apesar de ter confessado que me aborrece, eu não desisto das minhas<br />
esperanças, e venho ainda uma vez pedir-lhe, de joelhos, que não acompanhe<br />
o G*** e siga comigo para onde melhor lhe parecer em toda e qualquer parte<br />
do mundo. Os recursos pecuniários para a viagem não faltarão, porque, como<br />
saberá, acabo de ser largamente premiado pela loteria. E estará à sua<br />
disposição, desde que a senhora assim o decrete com uma simples palavra.<br />
Espero a sua resposta até depois de amanhã. — Melo Rosa".<br />
— Esse "depois de amanhã" é hoje, disse Jorge, porque esta carta<br />
chegou anteontem.<br />
Gabriel ficou pensativo, mas no íntimo sentiu-se feliz com aquelas<br />
palavras; provavam-lhe elas que a requestada repelia o Melo.<br />
Entretanto, tudo era arranjado pela própria Ambrosina; foi ela quem<br />
imaginou a carta, quem a escreveu e quem a pôs ao alcance do cocheiro,<br />
calculando que este desconfiado como andava, a iria mostrar logo ao patrão, e<br />
o patrão ao enteado.<br />
Gabriel resolveu ir dali mesmo à Praia do Russell.<br />
— Olhe, Doutor, disse-lhe Jorge; pode vossemecê contar comigo para o<br />
que der e vier! Se for preciso que o velhaco do tal Melo não importune, é só<br />
mo dizer porque eu me encarrego de tudo!...<br />
— Como assim?<br />
— Descanse, que lhe não tocarei num cabelo! Apenas o que faço é<br />
afastá-lo durante o tempo necessário para tratar vossemecê de seus<br />
interesses. Depois... ele que esbraveje à vontade! Siga viagem o Doutor com a<br />
sua Do.... e o resto fica por minha conta!<br />
Gabriel aprovou a idéia, e conversou demoradamente sobre ela com o<br />
cocheiro. Em seguida, foi ter com Ambrosina.<br />
— Estimo que chegasse! exclamou a bela rapariga, a envolver-lhe o<br />
corpo com os braços. Não imaginas o que vai por cá! Assenta-te, descansa um<br />
pouco, porque tenho cousas muito sérias a comunicar-te...<br />
Gabriel assentou-se, em silêncio. Ambrosina chegou uma cadeira para<br />
junto da dele, e, com uma voz misteriosa e cheia de movimentos reservados,<br />
disse-lhe:<br />
— Sabes que o Melo, desde aquele dia de loucuras lá em casa,<br />
persuadiu-se de que o amo?...<br />
O rapaz meneou afirmativamente a cabeça.<br />
— Pois bem; meteu-se-lhe em idéia que eu devia separar-me de ti para<br />
viver com ele!... Aquela peste não se enxerga! Ora, tenho pena de haver<br />
perdido uma carta que me remeteu o traste! Guardava-a justamente para te<br />
mostrar... Não sei onde a pus! Estou doida de procurá-la! Entre outras<br />
banalidades, diz o tolo haver tirado um prêmio na loteria. Querer seduzir-me<br />
com dinheiro!... A mim, que tu bem sabes quanto sou desinteressada! a mim,<br />
que te amaria da mesma forma, se fosses o mais pobre dos homens! Bem! Eu<br />
não dei um passo; nada quis resolver, sem falar contigo... Tu és o senhor de<br />
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