A CONDESSA VÃSPER Aluà sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...
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disse e tanto chorou, que acabou por me comover e persuadir. Fiz-lhe ver que,<br />
em todo caso, eu não me casaria aquele ano. Ele esperaria. Só o que desejava<br />
era possuir uma promessa. Prometi. E desde então o demônio do rapaz não<br />
me largou mais a porta. Passeios, teatros, bailes, touradas; tudo inventava<br />
para me agradar. Parecia viver unicamente para mim; dir-se-ia que todo o seu<br />
ideal era fazer com que o tempo corresse o mais depressa possível e que<br />
chegasse afinal o dia feliz da nossa união.<br />
"Só voltaremos a Montevidéu casadinhos!" dizia-me ele, a beijar-me as<br />
mãos. E eu, em verdade, nem só já o suportava perfeitamente, como até<br />
sentia já por ele certa inclinação.<br />
— Nós, as mulheres, somos muito fracas! explicou Violante com um olhar<br />
lastimoso. Se soubessem os homens o esforço que às vezes fazemos para<br />
sustentar o que a sociedade exige como tributo da nossa honestidade, dariam<br />
eles muito mais importância às nossas virtudes! Houve ocasiões, confesso, em<br />
que se me afigurou que Paulo tinha direito de ser mais atrevido do que<br />
realmente era.<br />
E, voltando-se na cadeira, a oriental continuou:<br />
— Uma vez propus-me um passeio ao campo. Aceitei e fomos.<br />
A manhã era esplêndida. Uma bela manhã cheia de luz e temperada por<br />
um calor comunicativo e doce. Às seis horas metemo-nos em um carrinho de<br />
vime, leve como uma cesta, rasteiro como um divã e cômodo como um leito.<br />
Paulo deu rédeas ao animal, e o carro nos conduziu para fora da cidade.<br />
26<br />
PAULO MOSTELLA<br />
VI<br />
— Eu sentia um bom humor extraordinário, presseguiu Violante: o ar<br />
puro e consolador da manhã, pulverizado no espaço em vapores cor-de-rosa,<br />
enchia-me toda como de uma grande alma nova, feita de cousas alegres e<br />
generosas. Tive vontade de rir e cantar.<br />
O sol principiava a destacar o contorno irregular das árvores e<br />
derramava-se transparente e suave. Sentia-me expansiva, alegre, tinha<br />
repentes de criança; e, não sei por que, Paulo nessa ocasião se me afigurou<br />
muito melhor do que das outras. Cheguei a achar-lhe graça e a desfazer-me<br />
em risadas com algumas pilhérias suas que fora dali me fariam bocejar.<br />
Em certa altura paramos. Ele ajudou-me a descer, prendeu o cavalo,<br />
abriu a minha sombrinha, e começamos a andar de braço dado por debaixo<br />
das árvores.<br />
Que delicioso passeio! O Senhor não pode imaginar quanto eu me senti<br />
feliz... Mais alguns passos, e tínhamos chegado a um caramanchão ou,<br />
melhor, a um alpendre de verdura misterioso, tépido, todo impregnado dos<br />
perfumes do campo e das sombras da folhagem. Ao lado uma cascata corria<br />
em sussurros, e as suas águas quebravam-se nas pedras, irradiando a<br />
fulguração do sol.<br />
26