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A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

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— Compreendo, compreendo! Queres tomar à tua conta alguma<br />

rapariga, e para isso é preciso um ninho perfumado... uma boceta de guardar<br />

jóias!...<br />

— Mas é uma cousa com pressa... observou o outro.<br />

— Isso é o que menos custa; se é que estás resolvido a puxar pela<br />

bolsa!...<br />

— Decerto.<br />

— Então, posso encarregar-me de tudo. Onde queres a casa?...<br />

— Em qualquer arrabalde, com tanto que seja bonita, nova e em lugar<br />

aprazível.<br />

— Daqui a pouco, teremos a chave, prometeu o outro, e sem lembrar<br />

mais das suas supostas ocupações desse dia. Sei de um chalezito recémconcluído,<br />

que está a pintar para o caso!<br />

E os dois, mal acabaram de almoçar, tomaram uma vitória e seguiram<br />

para Laranjeiras.<br />

Gabriel continuou pela viagem os seus cálculos de felicidade, e Melo Rosa<br />

principiou os seus de especulação.<br />

"Isto é negociozinho para render alguns cobres pensava este último. O<br />

tipo é muito peludo e está impaciente por lançar à rua uns bons pares de<br />

contos de réis... é uma mina! O que convém é ganhar-lhe primeiro a<br />

confiança; o resto fica por minha conta".<br />

E voltou-se para Gabriel, dizendo-lhe:<br />

— Com quê! te vais meter em uma lua-de-mel... hem, maganão?...<br />

— É exato, respondeu o outro, nadando em contentamento.<br />

— Estás que nem te podes lamber de contente.<br />

E com um ar mais sério:<br />

— Que tal é ela?...<br />

— Para mim — a mais bela das mulheres!<br />

— É conhecida por cá?...<br />

— Não!<br />

— Então chegou há pouco?...<br />

— Qual! é daqui mesmo. É rapariga de família...<br />

— Ah! exclamou o outro com um vislumbre; é a Ambrosina!<br />

Gabriel olhou-o de frente:<br />

— Como sabe?!...<br />

— Ora, que pergunta! Uma vez que é de família e vai morar contigo, não<br />

pode ser outra.<br />

E, fitando o banco fronteiro da carruagem:<br />

— Sim senhor! boa mulher! Parabéns!<br />

Daí a pouco, Gabriel passava às mãos do Melo todo o dinheiro que<br />

preventivamente trouxera consigo; e dentro de algumas horas principiavam já<br />

as andorinhas a conduzir os primeiros móveis para a futura residência dos dois<br />

amantes. Melo Rosa mostrava-se de uma solicitude admirável; tinha grande<br />

prática daquele serviço, e sabia onde se vendiam as mais caprichosas fantasias<br />

para uma instalação de amor caro.<br />

Depois de fazer compras e encomendas, muniu-se de três homens e<br />

meteu-se na casa a trabalhar. Pôs-se logo em mangas de camisa e a dar<br />

ordens para a direita e para a esquerda.<br />

— Olha, estouvado! gritava ele a um trabalhador; vê lá como pegas<br />

nesse espelho! Olha que isso não é de ferro, bruto! Abaixa! mais ainda! gritava<br />

para outro lado. Não machuques essas flores! Cuidado, animal!<br />

E a casa ia já se transformando em uma habitação de prazer e luxo. Era<br />

uma chacarazita com seu prédio novo, todo pintadinho e forradinho de fresco.<br />

Presta-se maravilhosamente para o fim desejado.<br />

Gabriel acompanhava o serviço com frenético prazer. O diabo era que a<br />

casa de saúde em que recolheram Leonardo ficava por ali cerca, e tal<br />

vizinhança não produzia bom efeito no ânimo do namorado de Ambrosina.<br />

Às sete horas da noite veio o jantar que Melo encomendara a um hotel, e<br />

os dois rapazes, à luz do gás, comeram e beberam intimamente, como se<br />

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