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A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

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por índole, por inata perversão, todos os segredos do amor sensual. Entregouse<br />

com arte, com talento. Ele, porém, amou-a com toda a dignidade de um<br />

noivo; amou-a convictamente, sentindo orgulho em possuí-la, cercando-a de<br />

ternuras respeitosas e de solicitudes de amigo.<br />

Supunha-se o infeliz deveras amado e sentia-se pronto a depor nas<br />

mãos da amante todas as suas esperanças e todo o seu futuro.<br />

— O Leonardo, calculava ele, mais cedo ou mais tarde, desaparece, e eu<br />

caso-me com Ambrosina. Ela será minha esposa, minha família, a mãe de<br />

meus filhos!<br />

Foi com estas palavras, repetidas pela filha, que Genoveva serenou um<br />

pouco e prometeu, ao retirar-se, freqüentar a casa de Gabriel.<br />

Entretanto, a pobre mulher, tempo depois, curtia o tédio do seu<br />

isolamento a aviar uma costura que tinha em mão, quando a campainha do<br />

jardim deu sinal.<br />

Foi ela mesma abrir. Era o Alfredo, o empregado público demitido.<br />

Estava outro o diabo do homem. Desde que Gabriel o socorrera, e o sr.<br />

Windsor, a pedido do comendador, o empregara no seu escritório comercial,<br />

voltaram-lhe os antigos hábitos de ordem e de asseio. Já não era o mesmo<br />

Marmelada; vinha escanhoado, com a camisa irrepreensível, bota engraxada e<br />

a sobrecasaca limpa.<br />

Genoveva recebeu-o com uma amabilidade triste e compungida. Depois<br />

das extremas palavras do comendador a respeito do pobre viúvo de Ana, ela o<br />

tratava com atenção quase religiosa, como quem cumpre um dever sagrado.<br />

Tinha-lhe estima e respeito, gostava de vê-lo com aquele ar austero e<br />

metódico, a falar pausadamente sobre assuntos sancionados pela moral<br />

pública.<br />

— Sente-se para cá, senhor Alfredo. Aí corre muito vento; pode fazer-lhe<br />

mal... Dê-me o seu chapéu. Eu vou trazer-lhe uma xícara de café.<br />

Alfredo agradecia, limpando com o lenço o suor da testa. Desculpava-se<br />

por estar dando incômodo, e queixava-se do calor.<br />

— Ah! não se pode respirar! confirmava Genoveva, assentando-se<br />

defronte da visita.<br />

E tomando uma posição mais descansada:<br />

— Ora, até que finalmente o senhor Alfredo se lembrou de aparecer aos<br />

amigos!...<br />

Ele estava sempre ocupado! O serviço do senhor Windsor não lhe<br />

deixava pôr pé em ramo verde; mas agora tratava-se de um negócio um tanto<br />

melindroso... Sim! a cousa era delicada! era!<br />

Genoveva assustava-se.<br />

— Que notícias me dá a senhora de sua filha e do Gabriel?...<br />

— Uma desgraça, senhor Alfredo! uma verdadeira desgraça! Parece que<br />

temos má estrêla; nunca vi assim uma enfiada de caiporismos! O senhor já<br />

sabe que o Gabriel me carregou com a pequena?...<br />

Desconfiava disso, minha senhora.<br />

— Pois é exato...<br />

E Genoveva contou minuciosamente o ocorrido.<br />

— O que lhe posso afiançar, disse Alfredo, é que aquilo é um rapaz de<br />

conta, peso e medida. Creia, D. Genoveva, que, se ele não se casa com a<br />

senhora sua filha, é porque a senhora sua filha é casada...<br />

— Não é dele que tenho receio, senhor Alfredo, é dela! é daquela<br />

cabecinha de vento, que não pensa no dia de amanhã. Ah! quando me lembro<br />

que posso ficar totalmente desamparada, sinto vontade de morrer!...<br />

E Genoveva tinha lágrimas a espiar-lhe pelo canto dos olhos.<br />

— Sossegue, minha senhora, não há de ser assim. Deus não permitirá<br />

semelhante cousa!...<br />

— Ora, o quê! disse a viúva com desconsolo. Agora tudo são rosas para<br />

ela; mas, em breve, as cousas mudarão... Como sabe o senhor, com a morte<br />

do meu defunto comendador, ficamos sem nada; só nos deixaram por muito<br />

favor, esta casinha, estes trastes e uma escrava, tão velha, que bem pouco<br />

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