27.11.2014 Views

A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

E limpava os olhos, apressado, para os não ocupar com outra cousa que<br />

não fosse Gabriel.<br />

— Como é vivo! Como é belo! exclamava ele, com a fi<strong>sio</strong>nomia iluminada<br />

de amor paterno.<br />

Não obstante, o velho coronel chorava silenciosamente a um canto. Só<br />

ele não participou da alegria geral; ao contrário, aquela música, petulante e<br />

sarcástica, doía-lhe por dentro como um insulto à sua tristeza.<br />

A casa palpitava e estremecia na onda vertiginosa das vibrações, quando<br />

de súbito assomou à porta o vulto magro do Marmelada, o chapéu para a nuca<br />

e as botas encalavradas, a dançar o som do palpitante bailado.<br />

O pobre homem tinha, inteiramente fora de seus hábitos e talvez em<br />

conseqüência da fome, apanhado uma formidável bebedeira; e, no entanto,<br />

não podia ser melhor o impulso que o levava ali; ia prestar um grande serviço,<br />

fazer uma revelação importantíssima para o coronel.<br />

Depois daquele delírio em que este o expulsara de casa, o infeliz ainda<br />

mais se afundara no seu desânimo moral e físico. O sogro mandara chamá-lo<br />

por várias vezes, mas Alfredo resmungava que lá não poria os pés!<br />

— Haviam-no enxotado, como se enxota um cão; ele porém, é que não<br />

voltaria como os cães! Sabia que era um pobre diabo, mas tinha consciência<br />

de não fazer mal a ninguém, nem cometer baixezas, para que o tratassem<br />

daquele modo!<br />

E o caso é que, apesar de toda a sua miséria, nunca mais voltaria com<br />

efeito, se não fosse o seguinte:<br />

Na manhã desse dia, toscanejava estendido em um dos bancos do<br />

Passeio Público, quando dois homens se assentaram no banco imediato,<br />

conversando. Alfredo reconheceu-os; eram o comendador Moscoso e o Melo<br />

Rosa.<br />

O viúvo de Ana fingiu que dormia, escondeu o rosto e prestou ouvidos.<br />

Os outros não lhe descobriram as feições, nem desconfiaram de sua<br />

presença, tão miserável era o aspecto de Alfredo e tão borracho parecia estar.<br />

O comendador, entretanto, ia dizendo, em continuação à sua conversa:<br />

— Pois o bicho escondeu-se! Suas mofinas produziram o efeito<br />

desejado... Mais umas duas da mesma força, e lavra-se-lhe a certidão de<br />

óbito. Foi obra!<br />

Melo Rosa tirou uma tira de papel do bolso e leu com intenção:<br />

"O nosso coronel, sem milho e crivado de dívidas não sai do buraco, nem<br />

à sétima facada; tem medo dos cadáveres, coitado! Mas nós havemos de<br />

arrancá-lo do esconderijo, nem que seja a marmelada! Lá diz o outro que<br />

macaco velho quando se coça, é que está tramando alguma! Vamos ter nova<br />

patifaria! Olho vivo! — A Sentinella.".<br />

— Que tal a acha?... perguntou o Melo ao comendador.<br />

— Não sei... disse este. Faltava-lhe graça... Você tem sido mais feliz das<br />

outras vezes. Veja se faz alguma cousa mais picante, mais mordaz...<br />

Melo guardou silenciosamente a tira no bolso, e prometeu arranjar cousa<br />

melhor.<br />

E depois acrescentou com interesse:<br />

— É verdade, preciso que o comendador me adiante cinquenta mil-réis...<br />

é um aperto sério!<br />

59<br />

59

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!