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A CONDESSA VÉSPER Aluí sio Azevedo - Bibliotecadigital.puc ...

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trabalho só lhe chegava aos ouvidos, como a longínqua música de uma batalha<br />

de estrangeiros.<br />

Ambrosina, não obstante, insistia na sua idéia de dar uma festa. O Rêgo<br />

e o Melo Rosa encarregaram-se de encomendar o jantar e tratar da decoração<br />

da casa. Ela escolheu um rico vestido de seda cor de creme, com o qual faria<br />

as honras da recepção; Gabriel distribuiu alguns convites, e, às cinco horas da<br />

tarde do dia marcado, principiaram a chegar os comensais.<br />

Genoveva fora de véspera para ajudar nos arranjos da cozinha, e Alfredo<br />

apareceu logo que pôde largar o trabalho.<br />

Exibiu o restaurado viúvo uma fatiota de brim branco, cujo apurado da<br />

goma dizia eloqüentemente os desvelos amorosos da sua nova companheira.<br />

Estava muito melhor de fi<strong>sio</strong>nomia e andava vivo e escorreito. De perfil,<br />

notava-se-lhe até um discreto princípio de abdômen.<br />

O Melo chegou com um amigo, ao qual apresentou ao dono da casa,<br />

dizendo cousas mui agradáveis a seu respeito; e o Reguinho apareceu por<br />

último, de carro, e acompanhado por uma rapariga loura, de olhos pintados.<br />

Esta circunstância não agradou muito a Gabriel, mas, como Ambrosina<br />

não via no fato intenção de maldade, e porque a rapariga tinha um todo<br />

acanhado e parecia portar-se com respeito, ele sacudiu os ombros e resignouse.<br />

Além disso, não havia muito onde escolher, porque de onze convidados<br />

apenas aqueles se apresentaram. Um fiasco!<br />

A filha do comendador, dissimulando o desapontamento, tocou antes da<br />

mesa o seu repertório de piano; e recitou uns versos, que lhe oferecera o<br />

Melo. Gabriel fazia servir os aperitivos e conversava vagamente com os convivas.<br />

Às seis horas, acenderam-se os candeeiros de gás, e os convidados<br />

tomaram à mesa os seus componentes lugares. Principiou o jantar.<br />

Notava-se constrangimento geral. Ambrosina, todavia, desfazia-se em<br />

obséquios e pedia que não tivessem cerimônia. Alfredo cercava Genoveva de<br />

solicitudes, falando-lhe de vez em quando ao ouvido. O Melo chamava-lhe a rir<br />

"Casal de pombinhos" e outras cousas que à matronaça não faziam bom<br />

cabelo, a julgar pelas suas olhadelas, repreensivas e cheias de conveniência,<br />

atiradas contra aquele.<br />

Desenvolvia-se o jantar, e o acanhamento ia desaparecendo à proporção<br />

que as garrafas se esvaziavam. Ambrosina recuperava o bom humor e comia<br />

já com apetite. Alfredo elogiava o vinho e atochava-se de leitão assado.<br />

— É o que se leva deste mundo! observou-lhe o Melo regaladamente.<br />

E o tempo corria. Repetiam-se os pratos e os copos; iam-se animando as<br />

fi<strong>sio</strong>nomias, e o vinho dava afinal à reunião uma caráter ruidoso e alegre. A<br />

própria rapariga do Rêgo, a princípio tão esquerda, arriscava já uma ou outra<br />

frase com pretensões a pilhéria.<br />

— O caso é ela enxugar um pouco! explicava o Rêgo; e prometia que lá<br />

para o fim do jantar estaria soberba.<br />

— O senhor confunde-me... respondeu a infeliz, abaixando<br />

maliciosamente os olhos e procurando ter graça.<br />

Gabriel queixava-se de que faltava ali muita gente; dos seus convites só<br />

quatro vingaram.<br />

Nestas ocasiões é que se conheciam amigos! sentenciou o Melo.<br />

Ambrosina pedia a Gabriel que se não mortificasse e, passando-lhe o<br />

braço na cintura, deu-lhe um beijo na orelha.<br />

Veio a sobremesa. Estourou o champanha, e o jantar esquentou logo.<br />

O Rêgo ergueu-se para um brinde.<br />

— Meus senhores! disse ele; bebamos à saúde de um jovem que, por<br />

suas virtudes e por seu talento, muito merece de nosso respeito e de nossa<br />

consideração... Bebamos à saúde daquele que hoje nos reune nesta casa, ao<br />

som dos alegres estampidos da viúva Clicôt!<br />

— Estampidos da viúva? Livra! bradou o Melo.<br />

— Ao dr. Gabriel! exclamaram muitas vozes.<br />

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