o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
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maneira sofística; os últimos mediante a afirmação <strong>de</strong> outros mundos diferentes <strong>da</strong>quele<br />
conhecido pela experiência”. Entretanto, Schopenhauer em sua ética consi<strong>de</strong>rará a essência<br />
íntima <strong>da</strong> virtu<strong>de</strong> segundo uma direção totalmente oposta à <strong>da</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>; ou seja, oposta à<br />
direção do bem-estar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Esse ponto será esclarecido a seguir. 19<br />
No que diz respeito às tentativas <strong>de</strong> construir sistemas filosóficos associando a<br />
felici<strong>da</strong><strong>de</strong> à virtu<strong>de</strong>, Schopenhauer pensa que elas falharam, embora não sem apelar para<br />
sofismas, como é o caso, por exemplo, <strong>da</strong> ética estóica.<br />
Em O Mundo, Schopenhauer esclarece que a ética estóica não é originária e<br />
essencialmente uma doutri<strong>na</strong> <strong>da</strong> virtu<strong>de</strong>, mas somente uma instrução para uma vi<strong>da</strong> racio<strong>na</strong>l,<br />
cujo fim e objetivo seriam a felici<strong>da</strong><strong>de</strong>. Felici<strong>da</strong><strong>de</strong> a ser obti<strong>da</strong> mediante a tranquili<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
ânimo. A conduta virtuosa, enten<strong>de</strong> ele, se encontra ali como que per acci<strong>de</strong>ns, como um<br />
meio e não como um fim. O objetivo <strong>da</strong> ética estóica seria a felici<strong>da</strong><strong>de</strong>. A ética estóica ensi<strong>na</strong><br />
que a felici<strong>da</strong><strong>de</strong> certa só se encontra <strong>na</strong> paz interior e tranquili<strong>da</strong><strong>de</strong> espiritual, por sua vez só<br />
alcançável pela virtu<strong>de</strong>. Com isso, o meio é enfatizado, em <strong>de</strong>trimento do fim. 20<br />
Schopenhauer reconhece que a ética estóica, toma<strong>da</strong> em seu conjunto, é <strong>de</strong> fato uma<br />
tentativa bastante apreciável e dig<strong>na</strong> <strong>de</strong> atenção para usar a gran<strong>de</strong> prerrogativa do homem, a<br />
razão, em favor <strong>de</strong> um fim importante e salutar, a saber, elevá-lo por sobre os sofrimentos e<br />
dores aos quais ca<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> está exposta. Ain<strong>da</strong> assim, ele consi<strong>de</strong>ra, falta muito para que algo<br />
perfeito seja trazido a bom termo por essa via; ou seja, falta muito para que a razão<br />
corretamente emprega<strong>da</strong> possa livrar-nos <strong>de</strong> todo fardo e sofrimento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e conduzir-nos à<br />
bem-aventurança. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, afirma ele: “[..] verifica-se uma completa contradição em<br />
querer viver sem sofrer, contradição que também se anuncia com frequência <strong>na</strong> expressão<br />
corrente ‘vi<strong>da</strong> feliz’.” 21<br />
Ele assim reconhece que a ética estóica, segundo to<strong>da</strong> sua essência e ponto <strong>de</strong> vista, é<br />
fun<strong>da</strong>mentalmente diferente dos sistemas éticos orientados para a virtu<strong>de</strong>, como o são as<br />
doutri<strong>na</strong>s dos Ve<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> Platão e do cristianismo. Se o objetivo <strong>da</strong> ética estóica é a felici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
através <strong>da</strong> paz interior, a qual só se alcança através <strong>da</strong> virtu<strong>de</strong>, isso significa que, para tal<br />
ética, a virtu<strong>de</strong> é o bem supremo. Se gra<strong>da</strong>tivamente o objetivo – virtu<strong>de</strong> – for esquecido em<br />
favor dos meios e for recomen<strong>da</strong>do <strong>de</strong> modo que revele um interesse completamente diverso<br />
<strong>da</strong> própria felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, a ela se opondo, então se trata <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>quelas inconsequências pelas<br />
19 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação. São Paulo: Unesp, 2005,§ 65.<br />
20 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação, § 16.<br />
21 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação, §16.<br />
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