18.01.2015 Views

o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe

o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe

o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alguns outros pontos <strong>de</strong>rivados do princípio máximo <strong>da</strong> ética kantia<strong>na</strong> que<br />

mereceriam críticas <strong>de</strong> Schopenhauer são a autonomia <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong>, o reino dos fins e a<br />

digni<strong>da</strong><strong>de</strong> do homem.<br />

Para Schopenhauer a terceira e a quarta fórmula, <strong>na</strong>s quais Kant institui seu princípio<br />

moral, representam a autonomia <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong>. Da forma como é coloca<strong>da</strong>, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo o<br />

ser racio<strong>na</strong>l é universalmente legisladora para todo o ser racio<strong>na</strong>l. A diferenciação conti<strong>da</strong> no<br />

imperativo categórico consiste em que, no querer por <strong>de</strong>ver, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve estar livre <strong>de</strong> todo<br />

o interesse. Schopenhauer enten<strong>de</strong> que todos os princípios morais anteriores estariam assim<br />

malogrados, pois teriam colocado no fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s ações, quer seja por coação, quer seja<br />

por estímulo, um interesse que po<strong>de</strong>ria ser próprio ou alheio. Schopenhauer procura <strong>de</strong>stacar<br />

ou chamar a atenção para a idéia kantia<strong>na</strong> <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong> que não vise “nenhum” interesse,<br />

nem mesmo um interesse alheio. Uma vonta<strong>de</strong> universal legisladora que prescreva ações por<br />

<strong>de</strong>ver que não se fun<strong>de</strong>m em qualquer interesse. Portanto, uma vonta<strong>de</strong> sem motivo, um efeito<br />

sem causa. Schopenhauer questio<strong>na</strong>: interesse e motivo não são conceitos intercambiáveis –<br />

interesse não quer dizer qual é o meu motivo E isto não é tudo aquilo que estimula e move a<br />

vonta<strong>de</strong> 42<br />

Quanto ao reino dos fins, Schopenhauer resume seus comentários em poucas linhas <strong>na</strong><br />

sua obra Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral:<br />

Enquanto isso festeja Kant o triunfo <strong>de</strong> sua autonomia<br />

<strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>na</strong> implantação <strong>de</strong> uma utopia moral sob o<br />

nome <strong>de</strong> um ‘reino dos fins’, que é habitado por puros<br />

seres racio<strong>na</strong>is ‘in abstracto’ que, todos juntos,<br />

continuamente querem, sem querer qualquer coisa que<br />

seja (isto é, sem interesse); querem ape<strong>na</strong>s uma coisa:<br />

que todos queiram sempre <strong>de</strong> acordo com uma máxima<br />

(quer dizer, autonomia). [...] Mas além <strong>de</strong>ste pequeno e<br />

inocente reino dos fins, que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar em paz como<br />

inofensivo, Kant dirige sua autonomia <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> a<br />

outra coisa <strong>de</strong> conseqüência mais grave, a saber, ao<br />

conceito <strong>de</strong> digni<strong>da</strong><strong>de</strong> do homem. Esta repousa, aliás,<br />

ape<strong>na</strong>s sobre a autonomia <strong>de</strong>le e consiste em que a lei<br />

que <strong>de</strong>ve seguir lhe seja <strong>da</strong><strong>da</strong> por ele mesmo. [...] Kant<br />

<strong>de</strong>fine digni<strong>da</strong><strong>de</strong> como um valor incondicio<strong>na</strong>l e<br />

incomparável. 43<br />

Schopenhauer em sua crítica compara a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> digni<strong>da</strong><strong>de</strong> com um valor<br />

incondicio<strong>na</strong>l e incomparável como muitas outras coisas que ocorrem <strong>na</strong> filosofia: uma tarefa<br />

posta por palavras para um pensamento que não se po<strong>de</strong> sequer pensar. Seria idêntico, assim<br />

ele expressa, a utilizar termos como o maior número ou o maior espaço para <strong>de</strong>finir algo.<br />

42 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 80-81.<br />

43 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 81-82.<br />

29

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!