o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
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o <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição. Tal idéia terá forte influência <strong>na</strong> formação <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> em<br />
sua obra O Mundo lança<strong>da</strong> em 1818.<br />
[...] A mais sábia <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as mitologias, a india<strong>na</strong>,<br />
exprime isso <strong>da</strong>ndo ao Deus que simboliza a <strong>de</strong>struição<br />
e a morte (como Brama, o Deus mais pecaminoso e<br />
menos elevado do Trimurti, simboliza a geração e o<br />
<strong>na</strong>scimento, e Vishnu a conservação), Shiva, o// atributo<br />
do colar <strong>de</strong> caveiras e, ao mesmo tempo, o linga,<br />
símbolo <strong>da</strong> geração, que aparece como contraparti<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
morte. Dessa forma indica-se que geração e morte são<br />
correlatas essenciais que reciprocamente se neutralizam<br />
e suprimem. 57<br />
Schopenhauer em diversas passagens <strong>de</strong> suas obras pesquisa<strong>da</strong>s nesse trabalho<br />
aproxima sua idéia <strong>de</strong> Vonta<strong>de</strong> à <strong>de</strong> coisa-em-si kantia<strong>na</strong>. No entanto, no trabalho<br />
Schopenhauer e o Oriente lemos uma passagem do Oupenek’hat: “De mim tudo <strong>na</strong>sce; sobre<br />
mim tudo se sustenta; em mim tudo se dissolve novamente; Eu sou este Brahma, o Um-semsegundo”.<br />
58<br />
E em O Mundo Schopenhauer afirma: “[...] Como Brama, o Deus mais<br />
pecaminoso e menos elevado do Trimurti, simboliza a geração e o <strong>na</strong>scimento [...].” 59 Assim,<br />
Brahma estaria mais próximo <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que a coisa-em-si <strong>de</strong> Kant.<br />
Schopenhauer esclarece em sua obra Sobre o Fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> Moral que a<br />
multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> e a separabili<strong>da</strong><strong>de</strong> pertencem somente ao mundo dos fenômenos. Mencio<strong>na</strong>,<br />
fazendo uso <strong>de</strong> uma idéia do Oriente, que uma mesma essência – Tat Tvam Asi – se apresenta<br />
em todos os viventes. Ou seja, conforme o conceito oriental no qual Schopenhauer se apóia,<br />
não existem almas múltiplas, mas uma alma única. Assim a ilusão que separa a diferença<br />
errônea entre o eu e o não-eu encontra-se indica<strong>da</strong> pelos hindus no termo Maya. A idéia <strong>da</strong><br />
“mesma essência” envolvendo todos os seres viventes está no fun<strong>da</strong>mento do fenômeno <strong>da</strong><br />
compaixão. Tat Tvam Asi seria, portanto, segundo Schopenhauer, a base metafísica <strong>da</strong> ética e<br />
consistiria no fato <strong>de</strong> um individuo reconhecer a si próprio, a sua essência ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira,<br />
imediatamente no outro.<br />
Minha essência inter<strong>na</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira existe tão<br />
imediatamente em ca<strong>da</strong> ser vivo quanto ela só se<br />
anuncia para mim, <strong>na</strong> minha autoconsciência. Este<br />
conhecimento, para o qual, em sânscrito, a expressão<br />
corrente é “Tat-Tvam-Asi”, quer dizer, “Isto és tu”, é<br />
aquilo que irrompe como compaixão sobre a qual<br />
repousa to<strong>da</strong> a virtu<strong>de</strong> genuí<strong>na</strong>, quer dizer, altruísta e<br />
cuja expressão real é to<strong>da</strong> ação boa. Este conhecimento<br />
é aquele pelo qual, em última instância, dirigem-se<br />
57 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação. São Paulo: Unesp, 2005, § 54.<br />
58 Oupnek’hat Kioul, vol. II, número CXXI, p. 166 e SS. – Upanisad, volume II, Kaivalya Upanisad, pp. 792-<br />
794. Apud Mesquita, F. L. <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong>. Schopenhauer e o Oriente. Dissertação <strong>de</strong> mestrado. São Paulo:<br />
FFLCH/USP, 2007, p. 52.<br />
59 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação. São Paulo: Unesp, 2005, § 54.<br />
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