o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
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03/06/1814 respectivamente. Assim os períodos aproximados em que ele fica com essa duas<br />
obras são, respectivamente, dois e três meses. 131<br />
Em princípio não se po<strong>de</strong> assegurar que Schopenhauer leu efetivamente esses textos. O<br />
fato <strong>de</strong> ele ter realizado os empréstimos não se vincula necessariamente com a leitura <strong>de</strong> tais<br />
exemplares. To<strong>da</strong>via, as citações encontra<strong>da</strong>s em suas obras revelam que Schopenhauer<br />
conhecia algumas passagens <strong>de</strong>sses textos.<br />
Em sua obra Sobre la quádruple raiz <strong>de</strong>l princípio <strong>de</strong> razón suficiente Schopenhauer<br />
mencio<strong>na</strong>, sem tecer mais consi<strong>de</strong>rações, uma palestra sobre temas ligados ao taoísmo, <strong>da</strong><br />
qual teria participado.<br />
E mesmo sem ser possível i<strong>de</strong>ntificar a fonte, sabe-se que Schopenhauer teve contato<br />
com o Bhagavad-Gîtâ – Canto do Senhor – pois em uma passagem em O Mundo, § 54, e em<br />
sua obra Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, pági<strong>na</strong> 223, ele faz menção à batalha no campo <strong>de</strong><br />
Kurukshetra, que representa a eter<strong>na</strong> luta entre o bem e o mal através <strong>da</strong> peleja entre kuravas e<br />
pân<strong>da</strong>vas. Ain<strong>da</strong> em O Mundo, livro IV, há inúmeras menções à yoga <strong>da</strong> renúncia à ação –<br />
karma-sannyâsa-yoga – como também à yoga <strong>da</strong> libertação através <strong>da</strong> renúncia – mokchasannyâsa-yoga<br />
– rica em temas voltados para o ascetismo e a cari<strong>da</strong><strong>de</strong>. Tanto a yoga <strong>da</strong><br />
renúncia à ação, como a yoga <strong>da</strong> libertação através <strong>da</strong> renúncia fazem parte do Bhagavad-<br />
Gîtâ.<br />
Em sua obra O Mundo Schopenhauer esclarece que sua ética concor<strong>da</strong> com as<br />
doutri<strong>na</strong>s e os preceitos éticos do Oriente embora ele faça uso <strong>de</strong>sses preceitos <strong>de</strong> forma<br />
diferente. 132<br />
Notamos que Schopenhauer realmente recorre a preceitos oriundos dos livros sagrados<br />
<strong>da</strong> Índia, mas utiliza-os <strong>de</strong> forma distinta. É o caso, por exemplo, <strong>da</strong> associação por ele feita<br />
entre Tat Tvam Asi e a compaixão. Uma leitura atenta irá <strong>de</strong>monstrar que este vínculo direto<br />
não existe <strong>na</strong> literatura oriental. Trata-se <strong>de</strong> uma aproximação feita por Schopenhauer.<br />
O conceito <strong>de</strong> consciência utilizado por Schopenhauer – consciência julgadora que<br />
segundo ele “só fala <strong>de</strong>pois” – difere completamente do conceito oriental. Em Schopenhauer a<br />
“consciência julgadora” está volta<strong>da</strong> para o que “somos”; para a culpa ou o mérito. Conforme<br />
o conceito oriental, a consciência está além <strong>da</strong> culpa e do mérito. A inconsciência, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
acordo com o conceito oriental, refere-se ao viver no mundo do sono, dos sonhos, <strong>da</strong> ilusão.<br />
131 Mockrauer, Jahrbuch, 1928, PP. 4 e 5). Apud MESQUITA, F. Schopenhauer e o Oriente. São Paulo:<br />
FFLCH/USP, 2007, p. 27.<br />
132 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação. São Paulo: Unesp, 2005, § 70.<br />
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