o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
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No primeiro livro <strong>de</strong> O Mundo, Schopenhauer direcio<strong>na</strong> sua atenção para o domínio <strong>da</strong><br />
“representação submeti<strong>da</strong> ao princípio <strong>de</strong> razão”. Ele abor<strong>da</strong> aqui a sua intuição filosófica<br />
fun<strong>da</strong>mental do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> teoria do conhecimento: a<strong>na</strong>lisa como se constroem as<br />
imagens no mundo, as intuições empíricas em nosso entendimento e o papel <strong>de</strong> nossa<br />
facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento.<br />
Dentre outros pontos necessários para compreensão <strong>de</strong> seu “pensamento único”, ele<br />
trata os fenômenos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>dos no tempo, no espaço e ligados pela causali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esse é<br />
o campo <strong>da</strong> ciência, <strong>da</strong>s intuições empíricas; cenário do Véu <strong>de</strong> Maya – dos sonhos, sonos,<br />
ilusões, dos <strong>de</strong>sejos, dores, sofrimentos. A angustiante condição huma<strong>na</strong>.<br />
No livro segundo surge a primeira consi<strong>de</strong>ração do mundo como Vonta<strong>de</strong> no aspecto<br />
<strong>de</strong> sua objetivação. Aqui, Schopenhauer abor<strong>da</strong> a sua intuição filosófica fun<strong>da</strong>mental do<br />
ponto <strong>de</strong> vista cosmológico: a teoria dos atos originários <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong>, a coisa-em-si, as Idéias<br />
platônicas. Partindo do corpo humano, que é consi<strong>de</strong>rado como a mais próxima objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> para o entendimento humano, ele esten<strong>de</strong> essa percepção a todos os <strong>de</strong>mais<br />
corpos do mundo. Assim chega ao conceito <strong>de</strong> Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> como coisa-em-si universal<br />
que se objetiva em fenômenos. A objetivação <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> promove uma luta generaliza<strong>da</strong><br />
entre os indivíduos por alimentos e por vantagens materiais no mundo, luta esta cujo objetivo<br />
é a afirmação <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> espécie. Essa autodiscórdia generaliza<strong>da</strong> tor<strong>na</strong>-se fonte <strong>de</strong> dor e<br />
sofrimento em to<strong>da</strong>s as partes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Tais reflexões levam a um pessimismo metafísico.<br />
Schopenhauer esclarece que em seu modo <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r as coisas, o mundo objetivo como<br />
representação não é o único, mas ape<strong>na</strong>s um lado do mundo. Seu lado exterior. O mundo<br />
possui sua essência íntima, seu núcleo, a coisa-em-si, que Schopenhauer irá associar à<br />
Vonta<strong>de</strong>.<br />
No terceiro livro vamos nos <strong>de</strong>parar com um retorno <strong>da</strong> consi<strong>de</strong>ração do mundo como<br />
representação, porém in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do princípio <strong>de</strong> razão. Trata-se <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong><br />
intuição filosófica fun<strong>da</strong>mental a partir <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista estético, que leva à metafísica do<br />
Belo, à <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong> intuição estética. As Idéias platônicas são nesta parte <strong>da</strong> obra explora<strong>da</strong>s.<br />
Trata-se <strong>da</strong> concepção <strong>da</strong> essência <strong>da</strong>s coisas expostas nos fenômenos. Aqui se tem no tempo<br />
uma imagem imóvel <strong>da</strong> eterni<strong>da</strong><strong>de</strong>. A contemplação estética tor<strong>na</strong>-se uma forma do<br />
conhecimento do mundo que compete com as ciências, superando-as e proporcio<strong>na</strong>ndo uma<br />
satisfação, uma plenitu<strong>de</strong> mística. O artista se fun<strong>de</strong> à <strong>na</strong>tureza, tor<strong>na</strong>ndo-se uno com a<br />
mesma; a distinção, a diferença <strong>de</strong>saparece. Contempla-se uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> superior, para além<br />
do véu <strong>de</strong> Maya <strong>de</strong> plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos indivíduos. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é revela<strong>da</strong> pela beleza. É um<br />
estágio no percurso adotado por Schopenhauer para fun<strong>da</strong>mentação <strong>de</strong> sua ética.<br />
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