o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
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esclarece que em consequência <strong>de</strong> suas consi<strong>de</strong>rações e ao contrário <strong>de</strong> outras doutri<strong>na</strong>s, “`[...]<br />
a essência íntima <strong>da</strong> virtu<strong>de</strong> resultará <strong>de</strong> um esforço em direção totalmente oposta à <strong>da</strong><br />
felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou seja, oposta à direção do bem-estar e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.” Abre-se caminho para a renúncia<br />
e posteriormente para a virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> compaixão. 74<br />
A negação <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> ocorre quando<br />
[...] aquele conhecimento leva o querer a fin<strong>da</strong>r, visto<br />
que, agora, os fenômenos particulares conhecidos não<br />
fazem mais efeito como MOTIVOS do querer, mas o<br />
conhecimento inteiro <strong>da</strong> essência do mundo, que<br />
espelha a Vonta<strong>de</strong>, e provém <strong>da</strong> apreensão <strong>da</strong>s IDÉIAS,<br />
tor<strong>na</strong>-se um QUIETIVO <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> e, assim, a Vonta<strong>de</strong><br />
suprime a si mesma livremente. 75<br />
Ele reconhece que através do mesmo conhecimento – contradição <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> consigo<br />
mesma – é possível uma supressão ou negação <strong>da</strong> mesma em seu fenômeno mais perfeito,<br />
quando ela refere um tal conhecimento a si mesma. Assim a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> jamais será encontra<strong>da</strong><br />
no fenômeno, pois pertence exclusivamente à coisa-em-si. Ela entrará em ce<strong>na</strong> no próprio<br />
fenômeno, ao suprimir a essência subjacente ao seu fun<strong>da</strong>mento, embora ele mesmo perdure<br />
no tempo. Surge <strong>da</strong>í uma contradição do fenômeno consigo mesmo, expondo <strong>de</strong>sse modo o<br />
estado <strong>de</strong> autonegação.<br />
Entretanto Schopenhauer <strong>de</strong>ixa claro que seu fim é expor a afirmação ou negação <strong>da</strong><br />
Vonta<strong>de</strong>, trazendo esse conhecimento à facul<strong>da</strong><strong>de</strong> racio<strong>na</strong>l, sem, contudo recomen<strong>da</strong>r uma ou<br />
outra, pois a Vonta<strong>de</strong> é em si absolutamente livre, não havendo lei alguma para ela.<br />
A Vonta<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser suprimi<strong>da</strong> por <strong>na</strong><strong>da</strong> senão pelo conhecimento. Assim<br />
consi<strong>de</strong>ra Schopenhauer que o único caminho <strong>de</strong> salvação é que a Vonta<strong>de</strong> apareça<br />
livremente, a fim <strong>de</strong> que nesse processo possamos conhecer a sua essência. E em<br />
consequência <strong>de</strong>ste conhecimento a Vonta<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá assumir a si mesma e, assim, pôr fim ao<br />
sofrimento inseparável <strong>de</strong> seu fenômeno. É a supressão <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> via contradição, como<br />
veremos a seguir.<br />
A vonta<strong>de</strong> individual é necessariamente <strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong> por motivos conforme o caráter.<br />
Há, por outro lado, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> completa supressão <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> quando os motivos se<br />
tor<strong>na</strong>m impotentes. Daí surge a contradição que resulta <strong>da</strong> intervenção imediata <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> em-si, e que não conhece a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seu fenômeno. A chave, afirma<br />
Schopenhauer, para a solução <strong>de</strong>ssa contradição resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> que o estado no qual o<br />
caráter se exime do po<strong>de</strong>r dos motivos não proce<strong>de</strong> imediatamente <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong> uma<br />
74 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação. São Paulo: Unesp, 2005, § 65.<br />
75 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação, § 54.<br />
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