o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
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Assim, partindo <strong>de</strong> sua crítica, Schopenhauer estabelece praticamente duas censuras à<br />
fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong> moral <strong>da</strong><strong>da</strong> por Kant. A primeira censura está direcio<strong>na</strong><strong>da</strong> para a origem <strong>da</strong><br />
lei moral. Schopenhauer crê que:<br />
Esta origem <strong>da</strong> lei moral é impossível em nós porque<br />
pressupõe que o homem chegue, por si só, à idéia <strong>de</strong><br />
procurar e informar a respeito <strong>de</strong> uma lei para sua<br />
vonta<strong>de</strong>, <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> submeter-se a ela e conformar-se com<br />
ela. Isto, porém, não po<strong>de</strong>ria ter vindo sozinho à sua<br />
cabeça, mas, quando muito, só <strong>de</strong>pois que uma outra<br />
instigante motivação moral, positiva e real,<br />
anunciando-se por si mesma e agindo sem ser chama<strong>da</strong>,<br />
tenha <strong>da</strong>do para tanto o primeiro empurrão. 44<br />
Esclarece Schopenhauer que <strong>na</strong><strong>da</strong> surge <strong>de</strong> <strong>na</strong><strong>da</strong> e que um efeito exige uma causa.<br />
Como qualquer motivo que impulsione a vonta<strong>de</strong>, a motivação moral tem <strong>de</strong> ser algo que se<br />
anuncie por si mesma; tem que ser real. E como para o homem só o empírico ou o que<br />
porventura é empiricamente existente tem reali<strong>da</strong><strong>de</strong> pressuposta, a motivação moral tem <strong>de</strong><br />
ser empírica e, como tal, anunciar-se para nós sem ser chama<strong>da</strong>. Tem que chegar até nós sem<br />
esperar por nossa pergunta, impondo-se a nós com tal força que lhe permita ao menos<br />
possivelmente superar os motivos egoístas, gigantescamente fortes, que se contrapõem a ela. 45<br />
A segun<strong>da</strong> censura <strong>de</strong> Schopenhauer a Kant é direcio<strong>na</strong><strong>da</strong> à falta total <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
<strong>de</strong> efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> possível <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong> moral. Segundo ele, tal fun<strong>da</strong>mentação paira no<br />
ar como uma teia <strong>de</strong> aranha <strong>de</strong> conceitos, os mais sutis e vazios <strong>de</strong> conteúdo, não se baseia em<br />
<strong>na</strong><strong>da</strong> e não po<strong>de</strong> por isso <strong>na</strong><strong>da</strong> suportar e <strong>na</strong><strong>da</strong> mover. 46<br />
E em suas críticas à fun<strong>da</strong>mentação kantia<strong>na</strong> Schopenhauer trabalha com uma<br />
in<strong>da</strong>gação do próprio Kant. Afirma Schopenhauer:<br />
Na conclusão <strong>de</strong> sua exposição (p. 124), diz Kant:<br />
“como porém uma razão pura sem outros motivos<br />
móbiles, venham <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vierem, po<strong>de</strong> por si mesma<br />
ser prática, isto é, como o mero princípio <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
universal <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as suas máximas como leis (que<br />
seriam certamente a forma <strong>de</strong> uma razão pura prática),<br />
sem qualquer matéria (objeto) <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong>, <strong>na</strong> qual se<br />
pu<strong>de</strong>sse previamente tomar um interesse, po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r por<br />
si mesmo um móbile e po<strong>de</strong> promover um interesse que<br />
<strong>de</strong>veria chamar-se puramente moral, ou, em outras<br />
palavras: como a razão pura po<strong>de</strong> ser prática – Eis o<br />
que to<strong>da</strong> razão é totalmente incapaz <strong>de</strong> explicar, e todo<br />
esforço e trabalho <strong>de</strong> buscar uma explicação para isto é<br />
perdido.” [...] Temos portanto <strong>de</strong> permanecer <strong>na</strong><br />
convicção <strong>de</strong> que aquilo que nem é compreendido como<br />
sendo possível nem provado como sendo real não tem<br />
qualquer confirmação <strong>de</strong> sua existência. [...]<br />
44 SCHOPENHAUER, A. Sobre a fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong> moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 50.<br />
45 SCHOPENHAUER, A. Sobre a fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong> moral, p. 51.<br />
46 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 52<br />
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