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o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe

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Com esta <strong>de</strong>claração fica mais fácil compreen<strong>de</strong>r porque Schopenhauer procura dirigir<br />

sua ética para minorar o sofrimento do próximo e não para lhe proporcio<strong>na</strong>r felici<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nele a<br />

infelici<strong>da</strong><strong>de</strong> é condição <strong>da</strong> compaixão, e a compaixão, a fonte <strong>da</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong>. 124<br />

Partindo <strong>da</strong>s virtu<strong>de</strong>s <strong>da</strong> justiça e cari<strong>da</strong><strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s car<strong>de</strong>ais, Schopenhauer<br />

procura confirmar que a compaixão é a única motivação não egoísta e genui<strong>na</strong>mente moral,<br />

consi<strong>de</strong>rando “[...] que ela manifesta uma efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>cidi<strong>da</strong> e ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente<br />

maravilhosa, em todos os tempos, entre os povos, em to<strong>da</strong>s as situações <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, também em<br />

situações sem lei [...].” 125<br />

A compaixão “é o mais firme e seguro fiador para o bom<br />

comportamento moral e não precisa <strong>de</strong> nenhuma casuística”. 126 Desse modo, “quem está<br />

cheio <strong>de</strong>la não causará seguramente <strong>da</strong>no a ninguém, não prejudicará ninguém, não fará mal a<br />

ninguém, mas antes, sendo indulgente com todos, a todos perdoará e a todos aju<strong>da</strong>rá, quanto<br />

pu<strong>de</strong>r, e to<strong>da</strong>s as suas ações trarão a marca <strong>da</strong> justiça e <strong>da</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong>”. 127 E acrescenta:<br />

Deixemos <strong>de</strong> lado to<strong>da</strong>s as talvez possíveis<br />

averiguações metafísicas do fun<strong>da</strong>mento último <strong>da</strong>quela<br />

compaixão, somente a partir <strong>da</strong> qual as ações não<br />

egoístas po<strong>de</strong>m provir, e consi<strong>de</strong>remos a compaixão <strong>de</strong><br />

um ponto <strong>de</strong> vista empírico, meramente como uma<br />

disposição <strong>na</strong>tural. Todos se convencerão <strong>de</strong> que para o<br />

melhor alívio possível dos sofrimentos incontáveis e<br />

multiformes, aos quais nossa vi<strong>da</strong> está exposta e os<br />

quais ninguém evita totalmente, e também, ao mesmo<br />

tempo, para contrapeso do egoísmo abrasador que<br />

preenche todo ser e, muitas vezes, transforma-se em<br />

mal<strong>da</strong><strong>de</strong>, a <strong>na</strong>tureza <strong>na</strong><strong>da</strong> po<strong>de</strong>ria ter produzido <strong>de</strong> mais<br />

eficaz do que plantar no coração humano aquele gérmen<br />

graças ao qual o sofrimento <strong>de</strong> um é sentido<br />

conjuntamente pelo outro e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> sai a voz que, <strong>de</strong><br />

acordo com a ocasião, clama forte e distintamente o<br />

“compa<strong>de</strong>ce-te” ou o “aju<strong>da</strong>”. 128<br />

A compaixão é um sentimento <strong>na</strong>tural, mas não predomi<strong>na</strong> em todos. É uma exceção e<br />

um mistério. A razão não po<strong>de</strong> explicá-la diretamente e a experiência não nos possibilita<br />

<strong>de</strong>scobrir-lhe as causas. A compaixão é um compa<strong>de</strong>cer pela participação imediata, sem<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> intermediação, <strong>na</strong> dor alheia.<br />

Uma vez que a razão não po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> tarefa e os fun<strong>da</strong>mentos não po<strong>de</strong>m ser<br />

<strong>de</strong>scobertos pelo caminho <strong>da</strong> experiência, Schopenhauer <strong>de</strong>duz que a explicação do processo<br />

originário compete à especulação metafísica.<br />

124 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 173-174.<br />

125 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 170.<br />

126 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 171.<br />

127 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 171.<br />

128 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 183.<br />

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