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o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe

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nem um apelo ao sentimento moral, mas sim um processo <strong>de</strong> pensamento sutil. Esclarece<br />

Schopenhauer: Kant, ao <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhar to<strong>da</strong> mola propulsora empírica <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong>, tendo<br />

abando<strong>na</strong>do previamente como sendo empírico tudo o que é objetivo e o que é subjetivo, teria<br />

<strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mentar uma lei para ela. Só lhe restou assim, como matéria <strong>de</strong>sta lei, sua própria<br />

forma. Esta não é senão sua legali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A legali<strong>da</strong><strong>de</strong>, porém, consiste em valer para todos,<br />

portanto, em sua universali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esta, portanto, é que vem ser a matéria. Assim, o conteúdo<br />

<strong>da</strong> lei não é outro senão a sua universali<strong>da</strong><strong>de</strong>. De acordo com isso, ela proclamará: “Age<br />

ape<strong>na</strong>s <strong>de</strong> acordo com a máxima que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne a lei<br />

geral para todo ser racio<strong>na</strong>l”. 38<br />

No que diz respeito à distinção entre a priori e a posteriori, Schopenhauer reconhece<br />

que Kant fez a <strong>de</strong>scoberta mais surpreen<strong>de</strong>nte e coroa<strong>da</strong> <strong>de</strong> êxito no conhecimento humano<br />

em termos <strong>de</strong> metafísica. Mas, ao mesmo tempo, expressa sua perplexi<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo fato <strong>de</strong> Kant<br />

preten<strong>de</strong>r aplicar esse método em situações não cabíveis.<br />

Schopenhauer admite que a ética <strong>de</strong>va consistir numa parte pura, isto é, cognoscível a<br />

priori, e também em outra parte empírica. Kant, alega Schopenhauer, rejeita a segun<strong>da</strong> parte,<br />

a empírica. Ele esclarece que Kant <strong>de</strong>termi<strong>na</strong> uma lei moral previamente admiti<strong>da</strong> como<br />

existente, sem justificação e sem <strong>de</strong>dução ou prova. E a mesma <strong>de</strong>ve ser, a<strong>de</strong>mais,<br />

cognoscível a priori e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>da</strong> experiência, tanto inter<strong>na</strong> como exter<strong>na</strong>, tendo<br />

como base simplesmente conceitos <strong>da</strong> razão pura. Afirma Schopenhauer:<br />

Imagine o que isto quer dizer! Ele acrescenta<br />

expressamente (Prefácio <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>mentação, p. VI) que<br />

“ela não po<strong>de</strong> ser procura<strong>da</strong> nem <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza huma<strong>na</strong><br />

(no subjetivo) nem <strong>na</strong>s circunstâncias do mundo (no<br />

objetivo)” e que “nem o mais mínimo po<strong>de</strong> ser tomado<br />

<strong>de</strong> empréstimo do conhecimento dos seres humanos,<br />

quer dizer, <strong>da</strong> antropologia” (i<strong>de</strong>m, p. VII). Ele ain<strong>da</strong><br />

repete (p.59) que “não se po<strong>de</strong> permitir que ocorra o<br />

pensamento <strong>de</strong> querer <strong>de</strong>rivar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seu<br />

princípio moral <strong>da</strong> constituição peculiar <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza<br />

huma<strong>na</strong>”. Igualmente (p.60) “tudo o que é <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong><br />

uma disposição <strong>na</strong>tural <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> certos<br />

sentimentos e <strong>de</strong> incli<strong>na</strong>ção e, até mesmo, on<strong>de</strong> for<br />

possível, <strong>de</strong> uma peculiar tendência que seja própria à<br />

<strong>na</strong>tureza huma<strong>na</strong> e não tenha <strong>de</strong> valer necessariamente<br />

para a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo o ser racio<strong>na</strong>l”, não po<strong>de</strong><br />

fornecer a fun<strong>da</strong>mentação para a lei moral. Isto<br />

testemunha irrefutavelmente que ele não estabelece a<br />

suposta lei moral como um fato <strong>da</strong> consciência [...] Ele<br />

rejeita a experiência exter<strong>na</strong> ain<strong>da</strong> mais <strong>de</strong>cidi<strong>da</strong>mente<br />

que a inter<strong>na</strong>, pois recusa to<strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentação empírica<br />

<strong>da</strong> moral. Portanto ele não fun<strong>da</strong>menta – o que peço que<br />

se note bem – seu princípio moral em qualquer fato <strong>de</strong><br />

38 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 68.<br />

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