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o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe

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Com uma <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>ção universalmente compreensível, a metafísica do Belo é a<br />

doutri<strong>na</strong> <strong>da</strong> apreensão <strong>da</strong>s Idéias, que são justamente o objeto <strong>da</strong> arte. Nessa perspectiva, ela<br />

se constitui <strong>na</strong> doutri<strong>na</strong> <strong>da</strong> representação <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que esta não segue o principio <strong>da</strong><br />

razão e é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>le.<br />

A arte seria a primeira forma <strong>de</strong> extinção <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> em geral. Ela nos afasta, ain<strong>da</strong><br />

que temporariamente, do mundo fenomênico, gover<strong>na</strong>do pela Vonta<strong>de</strong> Universal. A<br />

contemplação artística nos afasta do mundo, mas ape<strong>na</strong>s momentaneamente. Há ain<strong>da</strong> que<br />

consi<strong>de</strong>rar que existe <strong>na</strong> arte o sentimento do prazer, logo a realização <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo, motivo<br />

pelo qual ela ain<strong>da</strong> não po<strong>de</strong> promover a libertação do mundo. Ape<strong>na</strong>s nos apresenta uma<br />

“amostra” <strong>da</strong> coisa em si.<br />

A metafísica do Belo permite retirar o objeto <strong>da</strong> torrente do curso do mundo e isolá-lo<br />

diante do sujeito <strong>da</strong> contemplação. E esse particular, que é <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> uma parte<br />

do Todo, tor<strong>na</strong>-se o Todo. É quando o observador tor<strong>na</strong>-se justamente o puro sujeito do<br />

conhecimento. O momento <strong>da</strong> contemplação do Belo significa a “supressão <strong>da</strong><br />

individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>”, a negação <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong>, neutralizando-se assim a fonte do sofrimento. Cessa<br />

um querer individual em função do querer universal. Mesmo assim, a contemplação ocorre<br />

por um curto período <strong>de</strong> tempo, proporcio<strong>na</strong>ndo um alívio passageiro.<br />

O quarto livro volta à consi<strong>de</strong>ração do mundo como vonta<strong>de</strong>, porém agora trata do<br />

momento <strong>de</strong> sua afirmação ou negação. Ocorrendo a primeira alter<strong>na</strong>tiva vamos <strong>de</strong>parar com<br />

a figura do herói; ocorrendo a segun<strong>da</strong>, <strong>da</strong> renúncia, vamos encontrar a figura do asceta.<br />

Enquanto no primeiro livro a figura <strong>de</strong> Kant é mais marcante, no segundo é a <strong>na</strong>tureza, no<br />

terceiro, Platão, e no quarto livro a influência <strong>da</strong> filosofia oriental predomi<strong>na</strong>.<br />

A Vonta<strong>de</strong>, em Schopenhauer, não implica em uma fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> última. Trata-se <strong>de</strong> uma<br />

Vonta<strong>de</strong> que se dilacera a si própria eter<strong>na</strong>mente, no dilacerar-se <strong>da</strong>s coisas, numa fúria<br />

insa<strong>na</strong> <strong>de</strong> criação e <strong>de</strong>struição, estabelecendo uma or<strong>de</strong>m ilusória e momentânea, conforme a<br />

configuração <strong>da</strong>s forças. Essa or<strong>de</strong>m está sempre a se <strong>de</strong>sagregar, <strong>da</strong>ndo lugar a outra or<strong>de</strong>m,<br />

tão ilusória e momentânea quanto a anterior, pois a Vonta<strong>de</strong> não se extingue. Ela é<br />

irredutivelmente insaciável. Isso implica em uma impermanência no universo. Tudo surge,<br />

exerce e sofre ação, mu<strong>da</strong> e perece, pois to<strong>da</strong>s as coisas encontram obstáculos <strong>na</strong>s ações <strong>de</strong><br />

to<strong>da</strong>s outras coisas. Essa autodiscórdia essencial <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> cega e irracio<strong>na</strong>l, que se espelha<br />

em luta <strong>de</strong> todos contra todos, implica <strong>na</strong> condição huma<strong>na</strong>: <strong>de</strong>sejos, conflitos, dores,<br />

sofrimento. Com essa abor<strong>da</strong>gem, Schopenhauer diagnosticou o que há <strong>de</strong> mais real no<br />

mundo: um mal radical que se exprime <strong>na</strong> luta <strong>de</strong> todos contra todos. O mundo é Vonta<strong>de</strong>.<br />

Uma análise <strong>da</strong> ética <strong>de</strong> Schopenhauer vai nos mostrar ain<strong>da</strong> as limitações <strong>da</strong> própria<br />

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