o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Nosso resultado é pois que a ética kantia<strong>na</strong>, tanto<br />
quanto to<strong>da</strong>s as anteriores, dispensa todo fun<strong>da</strong>mento<br />
seguro. 47<br />
E Schopenhauer fi<strong>na</strong>liza suas críticas à fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong> moral kantia<strong>na</strong> afirmando<br />
que o essencial é que Kant permaneceu teólogo. Que sua filosofia prática é um puro disfarce<br />
<strong>da</strong> moral teológica.<br />
E, no que tange a to<strong>da</strong>s as tentativas anteriores visando uma fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong> moral,<br />
Schopenhauer questio<strong>na</strong>:<br />
Mas se talvez <strong>de</strong> um olhar retrospectivo para as<br />
tentativas feitas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois mil anos para<br />
encontrar um fun<strong>da</strong>mento seguro para a moral resultar<br />
que não há nenhuma moral <strong>na</strong>tural in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />
do estatuto humano, mas que esta é <strong>de</strong> ponta a ponta um<br />
artefato, um meio <strong>de</strong>scoberto para melhor domesticação<br />
do egoísta e maldoso gênero humano e que, por isso, ela<br />
<strong>de</strong>sapareceria sem o apoio <strong>da</strong> religião positiva, por que<br />
não teria reconhecimento interno em nenhum<br />
fun<strong>da</strong>mento <strong>na</strong>tural A justiça e a polícia não po<strong>de</strong>riam<br />
atingir todos os lugares [...] Além disso, a lei civil po<strong>de</strong><br />
coagir no máximo à justiça, mas não à cari<strong>da</strong><strong>de</strong> e ao<br />
bem agir, mesmo porque aí todos quereriam ser a parte<br />
passiva e não ativa. [...] De acordo com isso, não<br />
po<strong>de</strong>ria existir uma moral fun<strong>da</strong><strong>da</strong> meramente <strong>na</strong><br />
<strong>na</strong>tureza <strong>da</strong>s coisas ou do homem, a partir do qual<br />
ficaria claro que os filósofos se esforçaram em vão para<br />
buscar seu fun<strong>da</strong>mento. 48<br />
Assim, Schopenhauer pressupõe que as tentativas anteriores <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>r a ética foram<br />
insuficientes. Não conseguiram produzir em ca<strong>da</strong> homem aquilo que é o chamamento<br />
efetivamente presente para uma ação correta e boa. E o reconhecimento disso provém,<br />
enten<strong>de</strong> Schopenhauer, do concurso promovido pela Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Real Di<strong>na</strong>marquesa <strong>de</strong><br />
Ciências <strong>de</strong> Copenhague, em 30 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1840. Ele diz:<br />
[...] Como consequência, os fun<strong>da</strong>mentos antigos <strong>da</strong><br />
ética apodreceram, apesar <strong>de</strong> ter ficado a confiança <strong>de</strong><br />
que ela mesma nunca po<strong>de</strong> afun<strong>da</strong>r. Daí surge a<br />
convicção <strong>de</strong> que se tem <strong>de</strong> lhe <strong>da</strong>r outros apoios que<br />
não mais os até hoje existentes, a<strong>de</strong>quando-os aos<br />
conhecimentos avançados <strong>da</strong> época. Sem dúvi<strong>da</strong>, é a<br />
compreensão <strong>de</strong>ssa necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> ca<strong>da</strong> vez mais sensível<br />
que motivou a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Real para a presente e<br />
significante pergunta <strong>de</strong> concurso. 49<br />
Na pági<strong>na</strong> 4 <strong>da</strong> obra Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral consta a questão formula<strong>da</strong> pela<br />
Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Real: “A fonte e o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> filosofia <strong>da</strong> moral <strong>de</strong>vem ser buscados numa<br />
idéia <strong>de</strong> morali<strong>da</strong><strong>de</strong> conti<strong>da</strong> <strong>na</strong> consciência imediata e em outras noções fun<strong>da</strong>mentais que<br />
47 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 84-85.<br />
48 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 108-109.<br />
49 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 12.<br />
31