o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
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quais, em qualquer sistema, o imediatamente conhecido ou a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> senti<strong>da</strong> é <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
lado.<br />
Por outro lado, Schopenhauer pensa que o cristianismo prega uma virtu<strong>de</strong> inteiramente<br />
“sem utili<strong>da</strong><strong>de</strong>”, pratica<strong>da</strong> não em vista <strong>de</strong> recompensa numa vi<strong>da</strong> após a morte, mas <strong>de</strong> forma<br />
completamente gratuita, pelo amor a Deus. Nesse caso as obras não justificam, mas ape<strong>na</strong>s a<br />
fé que acompanha a virtu<strong>de</strong> e se apresenta espontaneamente e entra em ce<strong>na</strong> por si mesma.<br />
Schopenhauer procura em sua ética <strong>de</strong>sfazer a ligação entre felici<strong>da</strong><strong>de</strong> e virtu<strong>de</strong>. A<br />
virtu<strong>de</strong> nesse caso não é direcio<strong>na</strong><strong>da</strong> ao bem-estar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Segundo ele o “bem absoluto” é<br />
assim entendido:<br />
Do exposto segue-se que bom, segundo o seu<br />
conceito, [...] é essencialmente relativo pois tem sua<br />
essência ape<strong>na</strong>s em sua referência a uma vonta<strong>de</strong><br />
cobiçosa. Dessa forma, bom absoluto é uma<br />
contradição. O mesmo se dá em relação ao bem<br />
supremo, summum bonum, a saber, a satisfação fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong><br />
vonta<strong>de</strong> além <strong>da</strong> qual nenhum novo querer apareceria,<br />
noutros termos, um último motivo cujo alcançamento<br />
proporcio<strong>na</strong>ria um contentamento in<strong>de</strong>strutível <strong>da</strong><br />
vonta<strong>de</strong>. [...] Po<strong>de</strong>mos chamar essa total auto-supressão<br />
e negação <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> bem absoluto ou summum<br />
bonum, e vê-la como o único e radical meio <strong>de</strong> cura <strong>da</strong><br />
doença contra a qual todos os outros meios são<br />
anódinos, meros paliativos. 22<br />
Schopenhauer busca a fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong> moral através <strong>da</strong> crítica <strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>mentações<br />
quando reconhece que nenhuma virtu<strong>de</strong> autêntica po<strong>de</strong> resultar do conhecimento abstrato em<br />
geral, <strong>de</strong>vendo brotar do conhecimento intuitivo. Ele <strong>de</strong>clara:<br />
Pois a virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato provém do conhecimento, porém,<br />
não do conhecimento abstrato, comunicável em<br />
palavras. Se fosse este o caso, po<strong>de</strong>ria ser ensi<strong>na</strong><strong>da</strong> e,<br />
<strong>de</strong>sse modo, ao expressarmos aqui a sua essência e o<br />
conhecimento que está em seu fun<strong>da</strong>mento teríamos<br />
eticamente melhorado todo aquele que nos tivesse<br />
compreendido. Mas não é o caso. Antes, po<strong>de</strong>-se tão<br />
pouco formar um virtuoso por meio <strong>de</strong> discursos morais<br />
e sermões quanto o foi formar um único poeta com<br />
to<strong>da</strong>s as estéticas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Aristóteles. Pois o conceito é<br />
infrutífero para a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira essência íntima <strong>da</strong> virtu<strong>de</strong>,<br />
assim como o é para arte [...]. 23<br />
Ele dá continui<strong>da</strong><strong>de</strong> a seu raciocínio relatando que a bon<strong>da</strong><strong>de</strong> autêntica e a virtu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sinteressa<strong>da</strong> não se origi<strong>na</strong>m do conhecimento abstrato, mas <strong>de</strong> um conhecimento imediato<br />
e intuitivo que não po<strong>de</strong> ser adquirido ou elimi<strong>na</strong>do através dos raciocínios. E justamente por<br />
22 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação. São Paulo: Unesp, 2005, § 65.<br />
23 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação, § 66.<br />
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