o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
todos os apelos à doçura, à cari<strong>da</strong><strong>de</strong>, à clemência, pois é<br />
uma lembrança <strong>da</strong> consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que todos nós somos<br />
uma e mesma essência. 60<br />
Conforme relatado no capítulo anterior, Schopenhauer extrai <strong>de</strong> Kant alguns conceitos,<br />
principalmente os <strong>de</strong> a coisa-em-si, liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, caráter empírico, caráter inteligível,<br />
consciência. Logicamente, nem tudo o que Schopenhauer criticou <strong>na</strong> fun<strong>da</strong>mentação kantia<strong>na</strong><br />
<strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>scartado. Alguns dos elementos por ele <strong>de</strong>ixados <strong>de</strong> lado servirão também <strong>de</strong><br />
alicerce, como veremos posteriormente, para uma melhor compreensão do pensamento <strong>de</strong><br />
Schopenhauer.<br />
Schopenhauer, como mencio<strong>na</strong>do, utiliza elementos provenientes <strong>da</strong> filosofia<br />
kantia<strong>na</strong> como uma <strong>da</strong>s bases para forjar a fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong> sua metafísica e <strong>da</strong> sua moral.<br />
As diversas apropriações feitas por Schopenhauer <strong>de</strong> alguns conceitos que ele<br />
consi<strong>de</strong>ra <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor <strong>na</strong> obra <strong>de</strong> Kant propiciarão um melhor entendimento <strong>da</strong> trajetória<br />
que nosso pensador irá traçar para fun<strong>da</strong>mentar sua ética.<br />
No capítulo anterior – item 2.3, “Críticas <strong>de</strong> Arthur Schopenhauer às concepções<br />
morais anteriores” – esclarecemos que Schopenhauer refuta alguns pontos <strong>da</strong> ética kantia<strong>na</strong> e<br />
consi<strong>de</strong>ra outros <strong>de</strong> imenso valor para <strong>de</strong>linear sua fun<strong>da</strong>mentação, como é o caso <strong>da</strong><br />
concepção kantia<strong>na</strong> do fenômeno e a coisa-em-si. Alain Roger, no prefácio <strong>da</strong> obra Sobre o<br />
fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, ao abor<strong>da</strong>r a influência <strong>de</strong> Kant <strong>na</strong> fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong> ética <strong>de</strong><br />
Schopenhauer, diz:<br />
[...] A chave <strong>na</strong><strong>da</strong> mais é, como sabemos, do que a<br />
célebre distinção kantia<strong>na</strong>, mas <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> e, com isso,<br />
transforma<strong>da</strong>, pois o fenômeno passa a ser<br />
<strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>do ‘representação’, ao passo que a coisa-em-si<br />
tor<strong>na</strong>-se a Vonta<strong>de</strong>, u<strong>na</strong>, universal, in<strong>de</strong>strutível e livre.<br />
Essa segun<strong>da</strong> <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ção é, evi<strong>de</strong>ntemente, a mais<br />
origi<strong>na</strong>l – e a mais problemática –, ain<strong>da</strong> que, como<br />
Schopenhauer gosta <strong>de</strong> ressaltar, esteja em germe no<br />
kantismo [...]. 61<br />
Para fortalecer seus argumentos <strong>de</strong> que o fenômeno kantiano correspon<strong>de</strong>ria à<br />
representação em Schopenhauer e que a coisa-em-si correspon<strong>de</strong>ria à Vonta<strong>de</strong>, Roger, <strong>na</strong><br />
mesma pági<strong>na</strong>, cita Schopenhauer: “Admito, conquanto me seja impossível mostrá-lo, que<br />
Kant, ca<strong>da</strong> vez que fala <strong>da</strong> coisa-em-si, já se representava vagamente (‘un<strong>de</strong>utlich’) e <strong>na</strong>s<br />
profun<strong>de</strong>zas mais obscuras <strong>de</strong> seu espírito a vonta<strong>de</strong> livre”. E, <strong>de</strong> forma mais veemente: 62<br />
60 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 219.<br />
61 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. XXVI.<br />
62 SCHOPENHUAER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e representação, p. 635. Apud Roger, A. SCHOPENHAUER,<br />
A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. XXVI.<br />
38