o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
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Consi<strong>de</strong>ra portanto Schopenhauer que se minha ação só <strong>de</strong>ve acontecer por causa <strong>de</strong><br />
outro, então o seu bem-estar e o seu mal-estar têm <strong>de</strong> ser imediatamente o meu motivo.<br />
Através <strong>de</strong>sse raciocínio Schopenhauer aproxima-se <strong>da</strong> compaixão como motivo <strong>de</strong> sua<br />
fun<strong>da</strong>mentação moral através <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação. Ele afirma:<br />
Isto exprime nosso problema mais restritamente, a<br />
saber: como é <strong>de</strong> algum modo possível que o bem-estar<br />
ou mal-estar <strong>de</strong> um outro mova imediatamente a minha<br />
vonta<strong>de</strong>, isto é, como se fosse o meu próprio, tor<strong>na</strong>ndose<br />
portanto diretamente o meu motivo, e isto até mesmo<br />
num tal grau, que eu menospreze por ele, mais ou<br />
menos, o meu bem-estar, do contrário, a única fonte dos<br />
meus motivos Manifestamente, só por meio do fato <strong>de</strong><br />
que o outro se torne <strong>de</strong> tal modo o fim ultimo <strong>de</strong> minha<br />
vonta<strong>de</strong> como eu próprio o sou. Através, portanto, do<br />
fato <strong>de</strong> que quero imediatamente seu bem e <strong>de</strong> que não<br />
quero seu mal, tão diretamente como se fosse o meu.<br />
Isto, porém, pressupõe necessariamente que eu sofra<br />
com o seu mal-estar, sinta seu mal como se fora o meu<br />
e, por isso, queira seu bem se fora o meu próprio. Isto<br />
exige, porém que eu me i<strong>de</strong>ntifique com ele [...] 103<br />
Arthur Schopenhauer esclarece que o processo que correspon<strong>de</strong> ao fenômeno <strong>da</strong><br />
compaixão “é, <strong>na</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, o gran<strong>de</strong> mistério <strong>da</strong> ética, seu fenômeno originário e o ponto além<br />
do qual somente a especulação metafísica po<strong>de</strong> arriscar um passo”. 104 Ele reconhece que to<strong>da</strong>s<br />
as ações <strong>de</strong> justiça livre e <strong>da</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong> genuí<strong>na</strong> <strong>de</strong>correm <strong>de</strong>ssa compreensão. Ele enten<strong>de</strong> que,<br />
ao <strong>de</strong>monstrar que o fun<strong>da</strong>mento último <strong>da</strong> morali<strong>da</strong><strong>de</strong> resi<strong>de</strong> <strong>na</strong> própria <strong>na</strong>tureza huma<strong>na</strong> e<br />
que a compaixão faz parte <strong>de</strong>ssa <strong>na</strong>tureza, o problema <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong> ética estará<br />
resolvido. 105<br />
dissertação.<br />
O fenômeno <strong>da</strong> compaixão será tema central do próximo capítulo <strong>de</strong>sta<br />
No que concerne à fun<strong>da</strong>mentação que Schopenhauer se propõe perante a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Real Di<strong>na</strong>marquesa, ele faz uma ressalva: a fun<strong>da</strong>mentação metafísica do fenômeno ético<br />
originário ultrapassa bastante a questão posta por essa Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, a qual só pô<strong>de</strong> ser trata<strong>da</strong><br />
como um suplemento. Para sua <strong>de</strong>monstração metafísica ele estabelece alguns vínculos. O<br />
primeiro vínculo é entre a compaixão e a consciência. O segundo vínculo resi<strong>de</strong> no<br />
principium individuationis. O terceiro vínculo <strong>na</strong> <strong>de</strong>monstração metafísica do nosso autor<br />
iremos encontrar <strong>na</strong> idéia do Tat Tvam Asi. Esta idéia irá fornecer o elo a<strong>na</strong>lítico entre a<br />
experiência <strong>da</strong> compaixão e a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira metafísica – duali<strong>da</strong><strong>de</strong> do fenômeno e <strong>da</strong> coisa-emsi.<br />
Esses pontos serão discutidos no próximo capítulo.<br />
103 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 135-136.<br />
104 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 136-137.<br />
105 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 136-137.<br />
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