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o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe

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uma contribuição importante. Do mesmo modo que o utilitarismo, a ética <strong>schopenhauer</strong>ia<strong>na</strong><br />

se orienta a partir dos sentimentos em relação aos quais existem obrigações morais 135<br />

Compreen<strong>de</strong> Tugendhat que a gran<strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ste principio é que a compaixão,<br />

enquanto sentimento <strong>na</strong>tural, somente existe mais ou menos; ou seja, há seres humanos que,<br />

diante <strong>de</strong> qualquer sofrimento, reagem espontaneamente através <strong>da</strong> compaixão. Mas,<br />

esclarece Tugendhat, a maioria <strong>da</strong>s pessoas assim reage ape<strong>na</strong>s parcialmente e em algumas<br />

<strong>de</strong>las, mais forte ain<strong>da</strong> que a compaixão, existe o seu sentimento contrário, a satisfação pelo<br />

mal alheio e o prazer <strong>na</strong> cruel<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ele in<strong>da</strong>ga: “Po<strong>de</strong> um tal sentimento, <strong>na</strong>turalmente pré<strong>da</strong>do<br />

e existente em graus diversos, ser fun<strong>da</strong>mento para uma obrigação Somos nós<br />

obrigados por compaixão” 136<br />

Percebemos que, ao tecer suas críticas à fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong> ética em Schopenhauer,<br />

Ernst Tugendhat direcio<strong>na</strong> as mesmas para três pontos <strong>de</strong>rivados <strong>da</strong> concepção <strong>da</strong> ética<br />

kantia<strong>na</strong>: o respeito, o <strong>de</strong>ver moral e a universalização.<br />

Quanto à questão <strong>da</strong>s relações entre compaixão e respeito, ele <strong>de</strong>clara que:<br />

[...] se a compaixão como tal é <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>nte e se ela<br />

não é apoia<strong>da</strong> no respeito afetivo pelo ser humano – que<br />

é ao mesmo tempo um respeito para com todos os seres<br />

humanos, e nesta medi<strong>da</strong> uma postura <strong>de</strong> princípio –<br />

então ela somente é um sentimento mais ou menos forte,<br />

que existe <strong>na</strong>turalmente e que como tal está moralmente<br />

<strong>de</strong>snorteado”. 137<br />

Insiste Tugendhat que, em se tratando do respeito, o problema não está somente no<br />

fato <strong>de</strong> a compaixão nos abando<strong>na</strong>r no ponto on<strong>de</strong> temos a ver com os direitos morais que não<br />

se fun<strong>da</strong>mentam no sofrimento; o mesmo ocorre quando estamos diante <strong>de</strong> situações em que<br />

temos a ver com várias pessoas. Acrescenta ain<strong>da</strong> que o sentimento po<strong>de</strong> nos conduzir a<br />

adotar procedimentos moralmente errados se nos <strong>de</strong>ixarmos conduzir exclusivamente pelo o<br />

sofrimento do outro. Po<strong>de</strong>mos ir contra os seus direitos e também contra os direitos dos<br />

outros. 138<br />

Quanto ao problema <strong>da</strong>s relações entre compaixão e <strong>de</strong>ver moral, acredita Tugendhat<br />

que Schopenhauer não tem condições <strong>de</strong> falar <strong>de</strong>sse último, inicialmente porque con<strong>de</strong><strong>na</strong> o<br />

conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> Kant. Segundo, porque só permanecem para ele, Schopenhauer, as<br />

formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver <strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong>s por sanções exter<strong>na</strong>s: religiosas, contratualistas, jurídicas.<br />

Schopenhauer, segundo Tugendhat, não concebe a idéia <strong>de</strong> uma sanção inter<strong>na</strong>, assumi<strong>da</strong> em<br />

135 TUGENDHAT, E. Lições sobre ética. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, 2007, p. 178.<br />

136 TUGENDHAT, E. Lições sobre ética, p. 183.<br />

137 TUGENDHAT, E. Lições sobre ética, p. 185.<br />

138 TUGENDHAT, E. Lições sobre ética, p. 181.<br />

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