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o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe

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Dessa forma, sem nenhuma outra cre<strong>de</strong>ncial, o<br />

imperativo categórico pula para <strong>de</strong>ntro do mundo,<br />

intentando aí mesmo exercer sua regência com seu <strong>de</strong>ve<br />

incondicio<strong>na</strong>do. Pois no conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver existe<br />

absoluta e essencialmente, como condição necessária, a<br />

referência à punição ameaçadora, ou à recompensa<br />

prometi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> que não po<strong>de</strong> ser separado sem suprimirse<br />

e per<strong>de</strong>r to<strong>da</strong> sua significação. Eis porque um <strong>de</strong>ver<br />

incondicio<strong>na</strong>do é uma contradictio in adjecto. 35<br />

Em se tratando <strong>da</strong> lei, do princípio supremo <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentação kantia<strong>na</strong> <strong>da</strong> moral,<br />

Schopenhauer procura aprofun<strong>da</strong>r suas críticas e o faz através <strong>da</strong> distinção entre princípio e<br />

fun<strong>da</strong>mentação. Esta é sua linha <strong>de</strong> raciocino: inicialmente ele in<strong>da</strong>ga sobre a “origem” <strong>de</strong>ssa<br />

lei: qual é o seu conteúdo On<strong>de</strong> está escrita Em segui<strong>da</strong> coloca duas questões principais:<br />

uma refere-se ao princípio <strong>da</strong> ética, outra a seu fun<strong>da</strong>mento. Segundo ele, trata-se <strong>de</strong> duas<br />

coisas completamente distintas, mas que <strong>na</strong> maioria <strong>da</strong>s vezes são confundi<strong>da</strong>s e algumas<br />

vezes <strong>de</strong> forma bem intencio<strong>na</strong>l. 36<br />

Para Schopenhauer o princípio ou proposição fun<strong>da</strong>mental mais eleva<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma ética<br />

é a expressão mais concisa para o modo <strong>de</strong> agir que ela prescreve. Modo <strong>de</strong> agir que conce<strong>de</strong><br />

a essa ética um valor moral. Por outro lado, o fun<strong>da</strong>mento é a razão <strong>de</strong>ssa “obrigação” do agir<br />

moral conti<strong>da</strong> no princípio. Ele esclarece que a maior parte dos filósofos ao tratar do tema<br />

“ética” eliminou essa separação porque o princípio é fácil <strong>de</strong> ser mostrado, mas o fun<strong>da</strong>mento<br />

é terrivelmente difícil. Assim, ele relata, compensa-se a pobreza do fun<strong>da</strong>mento com a riqueza<br />

do princípio através <strong>de</strong> uma reunião <strong>de</strong> ambos numa proposição. Portanto, segundo<br />

Schopenhauer, <strong>de</strong>paramos em Kant com uma fórmula artificial. Explica Schopenhauer que<br />

quando se retor<strong>na</strong> às questões acima, sobre “qual o teor <strong>da</strong> lei e em que ela se fun<strong>da</strong>”,<br />

<strong>de</strong>scobrir-se-á que também Kant ligou estreitamente o princípio <strong>da</strong> moral com o seu<br />

fun<strong>da</strong>mento <strong>de</strong> um modo bastante artificial. Adverte Schopenhauer:<br />

Lembro <strong>da</strong>qui por diante a exigência <strong>de</strong> Kant, toma<strong>da</strong><br />

em consi<strong>de</strong>ração, já <strong>de</strong> início, <strong>de</strong> que o princípio moral<br />

<strong>de</strong>ve ser puro “a priori” e puramente formal e, pois, uma<br />

proposição sintética “a priori”, não tendo, por isso<br />

mesmo, nenhum conteúdo material e não po<strong>de</strong>ndo<br />

apoiar-se em <strong>na</strong><strong>da</strong> empírico, isto é, nem em algo<br />

objetivo no mundo exterior nem em algo subjetivo <strong>na</strong><br />

consciência, seja algum sentimento, incli<strong>na</strong>ção ou<br />

impulso. 37<br />

Dando continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ao seu raciocínio, Schopenhauer reconhece que a fun<strong>da</strong>mentação<br />

<strong>de</strong> Kant para a lei moral não é uma prova empírica <strong>da</strong> mesma como um fato <strong>da</strong> consciência,<br />

35 SCHOPENHAUER, A. Apêndice. Crítica <strong>da</strong> filosofia kantia<strong>na</strong>. In: O mundo como vonta<strong>de</strong> e como<br />

representação. São Paulo: Unesp, 2005, p. 650.<br />

36 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 43.<br />

37 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 45.<br />

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