o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
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ética no que concerne aos atos <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> e às antigas pretensões <strong>de</strong> mol<strong>da</strong>r o caráter<br />
empírico. 71<br />
Os atos <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> sempre possuem um fun<strong>da</strong>mento em si nos motivos. Tais motivos,<br />
entretanto, segundo Schopenhauer, só <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>m o que queremos neste lugar, nestas<br />
circunstâncias. Eles não <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>m o que queremos em geral, isto é, as máximas que<br />
evi<strong>de</strong>nciam todo o nosso querer. Assim a essência <strong>de</strong> nosso querer não é justifica<strong>da</strong> por<br />
motivos. Estes <strong>de</strong>limitam exclusivamente sua exteriorização em <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do ponto do tempo;<br />
são ape<strong>na</strong>s ocasiões em que nossa vonta<strong>de</strong> se manifesta. A Vonta<strong>de</strong>, em si, encontra-se fora<br />
do domínio <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> motivação. Somente seu fenômeno em <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do ponto do tempo será<br />
<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do por tal lei. Tudo isso pressupõe a existência do caráter empírico que é o motivo e<br />
fun<strong>da</strong>mento suficiente do nosso agir. Portanto, somente o fenômeno <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> está<br />
submetido ao principio <strong>de</strong> razão não ela mesma que, conforme Schopenhauer, é em si sem<br />
fun<strong>da</strong>mento.<br />
Para ca<strong>da</strong> manifestação <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong>, ca<strong>da</strong> ato, é possível i<strong>de</strong>ntificar um motivo pelo<br />
qual esse ato necessariamente <strong>de</strong>ve ocorrer em função do caráter empírico do agente. Mas a<br />
existência <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do caráter em um indivíduo, marcado pelo seu querer e por seus<br />
motivos, correspon<strong>de</strong> a algo para o qual Schopenhauer crê que não se po<strong>de</strong> fornecer<br />
fun<strong>da</strong>mento algum. Ele enten<strong>de</strong> que é inexplicável aquilo que ca<strong>da</strong> individuo é em seu<br />
caráter, o qual se acha pressuposto em qualquer expla<strong>na</strong>ção dos atos <strong>de</strong>sse mesmo a partir <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos motivos.<br />
Em função disso, Schopenhauer <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a idéia <strong>de</strong> que a filosofia <strong>de</strong>ve ser sempre<br />
teórica, <strong>de</strong>ve sempre manter uma atitu<strong>de</strong> contemplativa, não importando qual é o objeto <strong>de</strong><br />
investigação. Deve sempre inquirir ao invés <strong>de</strong> prescrever regras. A virtu<strong>de</strong>, assim como a<br />
arte, não po<strong>de</strong> ser ensi<strong>na</strong><strong>da</strong>. Tolice seria criar expectativas, enten<strong>de</strong> ele, <strong>de</strong> que qualquer<br />
sistema moral tivesse o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> criar caracteres virtuosos, nobres, santos. Assim como se<br />
nossas estéticas pu<strong>de</strong>ssem produzir poetas, pintores, músicos. 72<br />
Fi<strong>na</strong>lmente, em termos <strong>de</strong> limites, Schopenhauer consi<strong>de</strong>ra que o individuo, a pessoa,<br />
não é a Vonta<strong>de</strong> como coisa-em-si, mas seu fenômeno. Como fenômeno <strong>da</strong> Vonta<strong>de</strong> enquanto<br />
tal não é livre, mas está submetido à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Apesar <strong>de</strong> todos os propósitos e reflexões,<br />
não mu<strong>da</strong> sua conduta, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início até o fim <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> tem <strong>de</strong> conduzir o mesmo caráter<br />
71 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação. São Paulo: Unesp, 2005, § 53.<br />
72 SCHOPENHAUER, A. O mundo como vonta<strong>de</strong> e como representação, §66.<br />
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