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o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe

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Inicialmente em sua crítica Schopenhauer tem como intenção <strong>de</strong>monstrar que o<br />

imperativo categórico <strong>de</strong> Kant é suposição injustifica<strong>da</strong>, infun<strong>da</strong><strong>da</strong> e inventa<strong>da</strong>. Com isso,<br />

procura provar que também a ética <strong>de</strong> Kant carece <strong>de</strong> um fun<strong>da</strong>mento sólido.<br />

Quanto ao princípio máximo <strong>da</strong> ética kantia<strong>na</strong> – Age somente segundo a máxima que<br />

possas ao mesmo tempo querer que valha universalmente para todo ser racio<strong>na</strong>l –<br />

Schopenhauer crê que se baseia numa visão egoísta. O “meu po<strong>de</strong>r-querer”, enten<strong>de</strong><br />

Schopenhauer, é o eixo em torno do qual gira a or<strong>de</strong>m <strong>da</strong><strong>da</strong>. E in<strong>da</strong>ga: “que posso e não posso<br />

propriamente querer”. Enten<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> que seja necessário um regulativo para <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>r o<br />

que po<strong>de</strong>mos ou não querer. E on<strong>de</strong> encontrar esse regulativo a não ser em nosso próprio<br />

egoísmo É oportuno <strong>de</strong>stacar que Schopenhauer, ao trabalhar o egoísmo, abor<strong>da</strong>-o tanto em<br />

suas manifestações ostensivas <strong>na</strong>s ações dos homens quanto em suas formas mais ocultas e<br />

sutis. E, para confirmar esse seu entendimento, Schopenhauer cita uma <strong>de</strong>claração do próprio<br />

Kant: “[...] Que eu não po<strong>de</strong>ria querer uma máxima universal para mentir porque então não se<br />

acreditaria mais em mim ou seria pago <strong>na</strong> mesma moe<strong>da</strong>”. 29<br />

Ain<strong>da</strong> <strong>na</strong> mesma obra, relata Schopenhauer que esse aspecto egoísta do princípio<br />

moral kantiano vem expresso <strong>de</strong> modo mais claro nos Princípios metafísicos <strong>da</strong> doutri<strong>na</strong> <strong>da</strong><br />

virtu<strong>de</strong>, parágrafo 30: “pois ca<strong>da</strong> qual quer ser aju<strong>da</strong>do. Mas, se manifesta em sua máxima<br />

que não quer aju<strong>da</strong>r os outros, todos estarão autorizados a recusar-lhe assistência”. 30<br />

Portanto, conclui Schopenhauer, a máxima no interesse próprio contradiz a si<br />

mesma. “Está autorizado, diz a máxima, está autorizado! Portanto aqui está tão claramente<br />

explícito quanto possível que o <strong>de</strong>ver moral repousa ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente sobre a reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

por isto que é simplesmente egoísta e que recebe do egoísmo sua interpretação, como sendo<br />

aquilo que, sob a condição <strong>da</strong> reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>, pru<strong>de</strong>ntemente se enten<strong>de</strong> como um<br />

compromisso.” 31<br />

Schopenhauer enten<strong>de</strong> que a regra moral fun<strong>da</strong>mental não é, como afirma Kant, um<br />

imperativo categórico, mas sim hipotético. Com efeito, constata-se no fun<strong>da</strong>mento <strong>de</strong>sse<br />

último a condição <strong>de</strong> que a lei do nosso agir, enquanto eleva<strong>da</strong> ao nível universal, seja<br />

também uma lei para o nosso pa<strong>de</strong>cer e, <strong>na</strong> eventuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> nos encontrarmos como parte<br />

passiva, não po<strong>de</strong>mos querer estar sujeitos à injustiça e à falta <strong>de</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Alain Roger, no seu Prefácio à obra Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, cita Nietzsche para<br />

fortalecer o entendimento <strong>de</strong> Schopenhauer no que se refere ao <strong>de</strong>ver e ao imperativo<br />

29 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 69.<br />

30 KANT, I. Metafísica dos Costumes, § 30. Apud Schopenhauer, A. Sobre o Fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> Moral, p. 70.<br />

31 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 70.<br />

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