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o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe

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Mas precisamente contra estes instintos surgia em mim<br />

uma <strong>de</strong>sconfiança ca<strong>da</strong> vez mais fun<strong>da</strong>mental, um<br />

cepticismo ca<strong>da</strong> vez mais profundo. Neles via eu<br />

precisamente o gran<strong>de</strong> escolho <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, a<br />

tentação, a sedução suprema que a conduziria...<br />

aon<strong>de</strong>... ao <strong>na</strong><strong>da</strong> Neles via o principio do fim, o alto<br />

<strong>da</strong> marcha, o cansaço que olha para trás, a vonta<strong>de</strong> que<br />

se rebela contra a vi<strong>da</strong>, a última doença anuncia<strong>da</strong> por<br />

sintomas <strong>de</strong> ternura e <strong>de</strong> melancolia: compreendia que<br />

esta moral <strong>de</strong> compaixão, a qual ain<strong>da</strong> aos filósofos<br />

infectava, era o sintoma mais perigoso <strong>da</strong> nossa<br />

civilização européia, o sintoma do seu regresso ao<br />

budismo, a um budismo europeu, ao nihilismo!... Entre<br />

os filósofos, esta exageração <strong>da</strong> pie<strong>da</strong><strong>de</strong> é,<br />

efetivamente, coisa nova; até ao dia <strong>de</strong> hoje estiveram<br />

<strong>de</strong> acordo os filósofos no valor negativo <strong>da</strong> pie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Basta citar os nomes <strong>de</strong> Platão, Espinoza, La<br />

Rochefoucauld e Kant, estes quatro espíritos tão<br />

dissemelhantes, mas conformes num ponto: no <strong>de</strong>sprezo<br />

<strong>da</strong> pie<strong>da</strong><strong>de</strong>. 164<br />

Filósofos e pensadores – Kant como exemplo – <strong>de</strong>monstram <strong>de</strong>sinteresse pela<br />

compaixão. Outros acreditam que com frequência a compaixão é um sentimento <strong>de</strong> nossos<br />

próprios males nos males <strong>de</strong> outrem; ou que seja uma hábil previsão <strong>da</strong>s <strong>de</strong>sgraças em que<br />

po<strong>de</strong>mos cair; isto é, socorremos no sentido <strong>de</strong> obter, se necessário, o socorro. Existem<br />

aqueles que através <strong>de</strong> uma boa ação via compaixão visam seu próprio bem, por mais<br />

longínqua e indiretamente que seja. É o caso <strong>de</strong> visar a recompensa neste ou no outro mundo.<br />

Mas todos esses casos provam que a compaixão neles é impura, contami<strong>na</strong><strong>da</strong> pelo<br />

egoísmo como <strong>de</strong>monstra Arthur Schopenhauer em suas falas. Acreditamos que um dos<br />

fatores que prejudica um melhor entendimento sobre o fenômeno <strong>da</strong> compaixão <strong>na</strong><br />

fun<strong>da</strong>mentação <strong>de</strong> moral <strong>schopenhauer</strong>ia<strong>na</strong> consiste <strong>na</strong> não distinção entre a idéia que<br />

possuímos no Oci<strong>de</strong>nte sobre esse sentimento e a do Oriente, que Schopenhauer procura<br />

transmitir.<br />

Como consi<strong>de</strong>ra o filósofo Leo Staudt em seu trabalho A <strong>de</strong>scrição do fenômeno<br />

moral em Schopenhauer e Tugendhat, a concepção ético-metafísica em Schopenhauer não se<br />

reduz as questões <strong>de</strong> juízos morais; não faz humanização entre interesses individuais e o bemestar<br />

geral o núcleo <strong>da</strong> ética; e com isto a sua abor<strong>da</strong>gem ultrapassa o âmbito <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>. Não situa a ética no plano do relativismo do mundo como representação.<br />

Fun<strong>da</strong>mentado <strong>na</strong> sua concepção geral do mundo e <strong>da</strong> existência não localiza o sentido moral<br />

<strong>na</strong> afirmação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, mas <strong>na</strong> negação <strong>de</strong> todo querer viver. A fun<strong>da</strong>ção no Isto és tu e a<br />

compaixão como motivação são elementos primordiais para a negação <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong>. Não se<br />

164 NIETZSCHE, F. A Genealogia <strong>da</strong> Moral. Lisboa: Guimarães Editores, 2007, p. 14.<br />

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