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o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe

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A<strong>de</strong>mais, a consciência no conceito oriental não “fala <strong>de</strong>pois”, fala “durante”. Trata-se <strong>de</strong><br />

uma percepção do que “está acontecendo aqui e agora”.<br />

E no que tange à compaixão, este sentimento, no Oriente, possui uma conotação<br />

distinta <strong>da</strong>quela com a qual comumente <strong>de</strong>paramos no Oci<strong>de</strong>nte. Este, como frisamos, é um<br />

dos pontos que compromete o entendimento do pensamento <strong>de</strong> Arthur Schopenhauer quando<br />

se refere ao sentimento <strong>da</strong> compaixão.<br />

No Oriente, compaixão é Bodhicita. Neste sentido, a compaixão é o insuportável<br />

sentimento <strong>de</strong> dor pelo sofrimento do outro. Os Bu<strong>da</strong>s são feitos <strong>da</strong> matéria <strong>da</strong> compaixão.<br />

Isso requer percorrer um caminho para o <strong>de</strong>spertar. Lentamente há uma progressão <strong>da</strong><br />

peque<strong>na</strong> para a gran<strong>de</strong> compaixão. Este é o mistério do “fenômeno <strong>da</strong> compaixão”<br />

mencio<strong>na</strong>do por Schopenhauer. Bodhicita está inteiramente associa<strong>da</strong> a um processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spertar. Bodhicita é o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> atingir o estado <strong>de</strong> Bu<strong>da</strong> pelo bem <strong>de</strong> todos os seres. É<br />

amor puro e compaixão: amor que se <strong>de</strong>fine pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que o outro seja feliz; compaixão<br />

que se <strong>de</strong>fine pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que o outro se liberte do sofrimento.<br />

No Oriente a filosofia possui uma abor<strong>da</strong>gem diferente <strong>da</strong> oci<strong>de</strong>ntal. Começa com o<br />

sofrimento. Com a angústia dos homens. Com a ansie<strong>da</strong><strong>de</strong>, com a falta <strong>de</strong> sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos<br />

homens. Esta parte Schopenhauer incorporou muito bem em seu trabalho. Mas, no Oriente,<br />

essa percepção leva ao trabalho, Sadha<strong>na</strong>. Essa palavra significa que a filosofia não é ape<strong>na</strong>s<br />

pensar, mas ser. De acordo com essa filosofia, uma pessoa precisa tor<strong>na</strong>r-se algo, precisa<br />

viver algo; vivenciar; pôr em prática.<br />

Segundo Sadha<strong>na</strong>, não é possível dissociar a vi<strong>da</strong> espiritual <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong>. O<br />

propósito do Sadha<strong>na</strong> como o caminho para um <strong>de</strong>spertar é o ser atingir um nível elevado <strong>de</strong><br />

consciência. Sadha<strong>na</strong> é o caminho para o “esclarecimento” do mistério <strong>da</strong> compaixão.<br />

Schopenhauer possivelmente não praticou o Sadha<strong>na</strong>, mas tudo isso intuiu.<br />

Diante disso fica mais fácil enten<strong>de</strong>r por que Schopenhauer afirma que consi<strong>de</strong>rável<br />

parte <strong>da</strong>s ações caritativas provém <strong>da</strong> ostentação e muitas vezes <strong>da</strong> crença numa retribuição<br />

futura eleva<strong>da</strong> ao quadrado ou ao cubo, isso sem consi<strong>de</strong>rar outros motivos egoístas. Fica<br />

mais fácil compreen<strong>de</strong>r por que Schopenhauer fala <strong>de</strong> uma compaixão <strong>de</strong>smotiva<strong>da</strong>. Com<br />

efeito, o sentimento <strong>da</strong> compaixão em Schopenhauer é <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver, obrigação e<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ain<strong>da</strong> fica mais fácil <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r quando ele diz que o<br />

cristianismo prega uma virtu<strong>de</strong> inteiramente sem utili<strong>da</strong><strong>de</strong>, pratica<strong>da</strong> não em vista <strong>de</strong><br />

recompensa numa vi<strong>da</strong> após a morte, mas <strong>de</strong> forma completamente gratuita, pelo amor a<br />

Deus. Nesse caso as obras não justificam o valor moral, mas ape<strong>na</strong>s a fé que acompanha a<br />

virtu<strong>de</strong> e se apresenta espontaneamente e entra em ce<strong>na</strong> por si mesma.<br />

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