o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
o fenômeno da compaixão na ética de arthur schopenhauer - FaJe
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
próximo – virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong>. A essas duas virtu<strong>de</strong>s Schopenhauer chama <strong>de</strong> car<strong>de</strong>ais,<br />
“porque <strong>de</strong>las provêm praticamente to<strong>da</strong>s as restantes e teoricamente <strong>de</strong>rivam <strong>de</strong>las.” 120<br />
A virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> justiça impe<strong>de</strong> o indivíduo <strong>de</strong> causar o sofrimento a seu semelhante, uma<br />
vez que inibe as potências antimorais que repousam no egoísmo.<br />
A reflexão racio<strong>na</strong>l eleva a máxima “neminem lae<strong>de</strong>”<br />
[não prejudiques a ninguém] a uma firme resolução,<br />
toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma vez por to<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> observar os direitos <strong>de</strong><br />
todos, <strong>de</strong> não permitir que se ofen<strong>da</strong>m estes direitos, <strong>de</strong><br />
manter-se livre <strong>da</strong> auto-acusação <strong>de</strong> ser a causa do<br />
sofrimento alheio e, assim, <strong>de</strong> não lançar sobre os<br />
outros, por meio <strong>da</strong> violência ou <strong>da</strong> astúcia, a carga e o<br />
sofrimento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que as circunstâncias impõem a ca<strong>da</strong><br />
um, mas <strong>de</strong> suportar a parte que lhe é <strong>de</strong>sti<strong>na</strong><strong>da</strong> para não<br />
redobrar a do outro. 121<br />
Entretanto, Schopenhauer esclarece que <strong>na</strong>s ações <strong>de</strong> justiça a compaixão atua ape<strong>na</strong>s<br />
indiretamente, como potência, através <strong>de</strong> princípios. E quando as máximas <strong>da</strong> justiça <strong>de</strong>ixam<br />
a <strong>de</strong>sejar, nenhum motivo é mais eficaz para <strong>da</strong>r um apoio à justiça que aquele que é extraído<br />
<strong>da</strong> própria fonte originária – a saber, <strong>da</strong> compaixão. Ele reconhece que a compaixão encontrase<br />
mais evi<strong>de</strong>nte no fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong> do que no <strong>da</strong> justiça. 122<br />
Para Schopenhauer a virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>spretensiosa, sendo a participação direta no<br />
sofrimento alheio sem qualquer propósito egoísta, é o gran<strong>de</strong> e extraordinário mérito do<br />
cristianismo. E, nesse ponto, Schopenhauer, como fez no caso do ascetismo, aproxima o<br />
cristianismo do Oriente. Ele enten<strong>de</strong> que os Ve<strong>da</strong>s também pregam através <strong>da</strong> compaixão<br />
essas virtu<strong>de</strong>s liga<strong>da</strong>s ao amor ou equivalente.<br />
Fortalecendo sua idéia <strong>de</strong> que a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser limita<strong>da</strong> ao sofrimento do outro<br />
e não essencialmente dirigi<strong>da</strong> ao seu bem estar, Schopenhauer esclarece que ninguém<br />
receberá provas <strong>de</strong> genuí<strong>na</strong> cari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> outra pessoa enquanto estiver indo bem.<br />
O homem feliz po<strong>de</strong> experimentar <strong>de</strong> muitos modos o<br />
bem-querer <strong>de</strong> seus parentes e amigos. Porém, as<br />
manifestações <strong>da</strong>quela participação pura, <strong>de</strong>sinteressa<strong>da</strong><br />
e objetiva no estado e <strong>de</strong>stino alheios, que são efeitos <strong>da</strong><br />
cari<strong>da</strong><strong>de</strong>, ficam reserva<strong>da</strong>s a quem está sofrendo sob<br />
algum aspecto, pois não nos interessamos por aquele<br />
que, como tal, é feliz, mas antes este permanece, como<br />
tal, alheio ao nosso coração: “Habeat sibi sua” [tenha o<br />
que é seu para si]. 123<br />
120 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 141.<br />
121 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 143-144.<br />
122 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 145.<br />
123 SCHOPENHAUER, A. Sobre o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> moral, p. 172-173.<br />
68