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ECOS DO TIRO NA PRACA

Os tiros disparados a esmo na Plaza Mayor da cidade de Salamanca, na Espanha, fizeram as primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola, em 19 de julho de 1936. Oitenta anos após o início do conflito, considerado um dos mais hediondos da Europa, as consequências desta tragédia ainda ecoam na história dos moradores da cidade. Principalmente na vida dos três protagonistas dessa obra, que, ainda crianças, tiveram seus pais assassinados durante o regime franquista. Em depoimentos comoventes, os três filhos recordam o passado conturbado e mostram que é possível lutar por justiça sem derramar mais sangue.

Os tiros disparados a esmo na Plaza Mayor da cidade de Salamanca, na Espanha, fizeram as primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola, em 19 de julho de 1936. Oitenta anos após o início do conflito, considerado um dos mais hediondos da Europa, as consequências desta tragédia ainda ecoam na história dos moradores da cidade. Principalmente na vida dos três protagonistas dessa obra, que, ainda crianças, tiveram seus pais assassinados durante o regime franquista. Em depoimentos comoventes, os três filhos recordam o passado conturbado e mostram que é possível lutar por justiça sem derramar mais sangue.

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cavando. No fundo, ele sabia que achar o pai era uma forma<br />

de devolver a possibilidade de voltar a respirar em paz.<br />

O barulho que chamou a atenção veio do impacto entre a pá<br />

e um esqueleto. Naquele local, havia dois corpos, os únicos<br />

ainda vestidos. Paralelo a um homem que trajava roupas finas<br />

e fora enterrado com o chapéu sobre o peito, estava Eduardo.<br />

Assim que viu a calça de tecido azul e a camisa de linho,<br />

Pepe começou a chorar. Os sapatos brancos, agora completamente<br />

sujos de terra, só reforçaram a certeza que o filho<br />

tinha: ele estava diante do pai novamente.<br />

Quando olhou para os restos mortais de Eduardo, voltou a<br />

ser um menino. Inspirou e expirou o ar com força, como se<br />

descarregasse dos pulmões toda angústia que carregara por<br />

mais de oito décadas. Quis gritar, dizer ao mundo que a busca<br />

havia chegado ao fim. Havia conseguido realizar a missão<br />

de sua vida. Queria contar aos irmãos, abraçar os netos, mostrar<br />

o orgulho que sentia a esposa.<br />

A falta de outra pessoa o deixou decepcionado. Infelizmente,<br />

Modesta se despediu da vida sem ter notícias sobre<br />

o real paradeiro de seu grande amor. A mãe de Pepe<br />

faleceu em 1957, aos 52 anos, vítima de câncer no ovário.<br />

Cinquenta e um anos antes de os restos mortais de Eduardo<br />

serem encontrados.<br />

José Pascual Mateos, o Pepe • 107

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