ECOS DO TIRO NA PRACA

dando os primeiros arremates no ponto cruz. Jesusa fazia
questão que levassem essas lições para casa e incentivava a dedicação
às tarefas domésticas. A mãe queria que elas tivessem
conhecimento de todas as áreas, mas desejava intensamente
que o futuro das filhas não ficasse limitado apenas a varrer o
chão, comandar o fogão e lavar roupa. Jesusa era comunista
e, assim que se instalou no povoado, conseguiu unir outras
mulheres do bairro em um grupo que defendia a liberdade
dos direitos femininos na sociedade. As convicções políticas
da esposa não atrapalhavam seu casamento. Pelo contrário,
Crisantos era apaixonado pela mulher que conseguia equilibrar
em harmonia o amor e cuidado com a família sem deixar de
lutar pelo que acreditava. E o marido seguia a mesma linha de
pensamento. Apesar de não ser filiado a nenhum partido, não
escondia a afinidade com a esquerda política.
As ideias e atitudes defendidas pelo casal, no entanto, eram
contrárias às daqueles que estavam no poder. O choque de
princípios, intenso e com consequências devastadoras, foi na
manhã do domingo 19 de julho no confronto entre militares
e civis que defendiam uma Espanha diferente daquela que
Franco tentava impor. Assim que a notícia do conflito, que
deixou seis mortos no chão da Plaza Mayor de Salamanca
naquele dia, chegou aos ouvidos dos moradores de Guijuelo,
Jesusa e Crisantos começaram a imaginar o que aconteceria
com suas vidas dali em diante. O casal sabia que estava na
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