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ECOS DO TIRO NA PRACA

Os tiros disparados a esmo na Plaza Mayor da cidade de Salamanca, na Espanha, fizeram as primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola, em 19 de julho de 1936. Oitenta anos após o início do conflito, considerado um dos mais hediondos da Europa, as consequências desta tragédia ainda ecoam na história dos moradores da cidade. Principalmente na vida dos três protagonistas dessa obra, que, ainda crianças, tiveram seus pais assassinados durante o regime franquista. Em depoimentos comoventes, os três filhos recordam o passado conturbado e mostram que é possível lutar por justiça sem derramar mais sangue.

Os tiros disparados a esmo na Plaza Mayor da cidade de Salamanca, na Espanha, fizeram as primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola, em 19 de julho de 1936. Oitenta anos após o início do conflito, considerado um dos mais hediondos da Europa, as consequências desta tragédia ainda ecoam na história dos moradores da cidade. Principalmente na vida dos três protagonistas dessa obra, que, ainda crianças, tiveram seus pais assassinados durante o regime franquista. Em depoimentos comoventes, os três filhos recordam o passado conturbado e mostram que é possível lutar por justiça sem derramar mais sangue.

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Até que um dia, já com 61 anos, Luís notou que a mãe estava<br />

diferente, parecia esconder algo. Remedios havia passado<br />

o dia todo isolada no quarto que vivia na casa do filho,<br />

em La Vega, bairro de Salamanca. Então, à noite, ele bateu<br />

à porta e entrou para ver se ela estava bem. Encontrou-a<br />

sentada na cama, chorando, com um papel e uma foto enrugada<br />

nas mãos. Remedios, em idade avançada e debilitada<br />

por algumas enfermidades, não queria se despedir da vida<br />

sem a certeza de que Luís e o irmão soubessem o quanto<br />

estava orgulhosa da existência que construíram. Ao ver o<br />

filho, entendeu que aquela ocasião seria única: ele conheceria<br />

um pouco mais do pai por meio de um testamento<br />

sentimental que permanecera inédito aos olhos dele todos<br />

aqueles anos. Ela, então, entregou-lhe um pedaço de papel<br />

que segurava e disse:<br />

– Toma filho, isso é teu porque sei que conservarás com o<br />

mesmo cuidado que eu tive durante anos.<br />

Luís sem entender direito o que aquilo significava, olhou<br />

com curiosidade para compreender o tom emocionado da<br />

mãe. Quando percebeu que se tratava do bilhete de despedida<br />

do pai, logo foi tomado pelas lágrimas. Não imaginava<br />

que décadas após a morte de seu pai ainda teria um novo<br />

contato com ele. Leu com os olhos embaçados pela água que<br />

corria sem controle:<br />

Luís Calvo Rengel • 69

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