ECOS DO TIRO NA PRACA

na profissão de maquinista na companhia ferroviária Renfe,
onde ele exercia um cargo administrativo.
Gimiro era um bom pai, porém, nunca poderia substituir
Eduardo, nem apagar o fato de Pepe não ter tido a oportunidade
de ajudar a organizar o enterro do pai. O adolescente
continuava preso à crença de que ele ainda poderia estar vivo.
A esperança renascia quando via notícias nos jornais sobre
familiares que voltaram a suas casas tempos depois de declararem
o fim da guerra espanhola, em abril de 1939. “E se ele
não morreu? Se escapou?”, pensava Pepe. Agarrar-se à ideia
de que o pai estava vivo era uma forma mais confortável de
lidar com o vazio de sua ausência.
Muitos espanhóis também acreditaram, iludidos, que Franco
seria derrubado com a queda de Hitler e a rendição da
Alemanha, em 8 de maio de 1945. Porém, enquanto as democracias
se preocupavam em colocar ordem na Europa, o
general fez uma faxina em seu governo, reestruturou seu partido
político, a Falange, e reforçou a aliança com o Vaticano.
O terreno estava limpo para seguir em frente com a ditadura
que estabeleceria a incerteza e o medo na sociedade por quase
quatro décadas.
Em 1946, um ano após o fim da Segunda Guerra Mundial,
Pepe completou dezoito anos e deixou a mãe, o padrasto e os
José Pascual Mateos, o Pepe • 95