ECOS DO TIRO NA PRACA

passeio pelo Parque de la Alamedilla, muito menos merenda
à beira do rio Tormes. Apesar da tensão que carregava o
clima da vizinhança e impedia os cidadãos a seguirem a vida
habitual, Juan não podia faltar ao trabalho noturno. Mesmo
sem muito apetite, jantou com a família e, por volta das
21h30, foi ao quartel dos bombeiros onde passaria a noite de
guarda no caminhão.
Na casa da família, o medo, agravado pelo som dos disparos
que ecoavam a quilômetros de distância, levou o pequeno
Luís direto para a cama dos pais. Envolvido nos braços
da mãe, o menino, pouco a pouco, se deixou vencer pelo
cansaço até que, enfim, caiu no sono. Remedios, por outro
lado, quase não pregou os olhos à espera do marido, único
capaz de amenizar o tumulto de pensamentos atordoados
em sua mente. No entanto, assim que registrou a hora de
saída do serviço, mais precisamente às 6h30, Juan não voltou
direto ao lar.
Certamente, ele sabia que a decisão de encontrar os companheiros
do partido era arriscada e poderia acabar com mais
vidas além de sua própria. Mas, acreditava que se unisse forças
com os outros trabalhadores, encontraria uma forma de
garantir a segurança de sua família em meio à grandiosidade
da desordem que o general Franco havia causado na Espanha.
Mesmo declarada a proibição de reuniões longe dos
Luís Calvo Rengel • 41