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por Wyclif (1382) [— a primeira de todas —] traz aqui a palavra cleping (vocábulo do<br />
inglês antigo mais tarde substituído pelo emprestado calling) — o que certamente é<br />
característico da ética dos lolardos, a saber: uma palavra já correspondente ao uso<br />
protestante posterior — ; a tradução de Tyndale (1534) emprega por sua vez a ideia de<br />
estado: in the same state wherein he was called, tal como a de Genebra (1557). A tradução<br />
oficial de Cranmer (1539) substitui state por calling, ao passo que a Bíblia (católica) de<br />
Reims (1582) bem como as bíblias anglicanas da corte da era elisabetana dão meia-volta<br />
e, tendo por base a Vulgata, retornam caracteristicamente ao uso de vocation. Murray já<br />
reconhecera, com razão, que para a Inglaterra a tradução da Bíblia feita por Cranmer é a<br />
fonte do conceito puritano de calling no sentido de Beruf = trade. Já em meados do<br />
século XVI acha-se calling usado nesse sentido; em 1588 já se falava de unlawful callings,<br />
em 1603 de greater callings no sentido de profissões “superiores” etc. (ver Murray, op. cit.).<br />
[(É muitíssimo estranha a ideia de Brentano de que, se na Idade Média não se traduzia<br />
vocatio por “Beruf” e não se conhecia esse conceito, era porque só homens livres podiam<br />
exercer uma “profissão” e naquela época simplesmente faltava gente livre nas profissões<br />
burguesas (op. cit., p. 139). Dado que toda a escala social dos ofícios medievais, ao<br />
contrário do que ocorria na Antiguidade, repousava no trabalho livre e dado que<br />
praticamente todos os mercadores eram homens livres, não consigo compreender direito<br />
essa afirmação.)]<br />
56. Para o que vem a seguir, ver a instrutiva exposição de K. Eger, Die Anschauung<br />
Luthers vom Beruf (Giesse, 1900), cuja única lacuna, como ocorre com quase todos os<br />
teólogos, talvez seja a ausência de uma análise suficientemente clara do conceiito de lex<br />
naturae (ver a respeito a resenha que E. Troeltsch fez da Dogmengeschichte de R. Seeberg,<br />
Göttinger Gelehrte Anzeigen (1902) [e sobretudo as seções de suas Soziallehrender<br />
christlichen Kirchen und Gruppen (1912) que tratam disso].<br />
57. De fato, quando Tomás de Aquino apresenta a articulação dos homens em<br />
estamentos e profissões como obra da Providência divina, o que se tem em mente é o<br />
cosmos objetivo da sociedade. Mas o fato de o indivíduo dedicar-se a uma determinada<br />
“profissão” concreta (assim diríamos nós; Tomás de Aquino diz ministerium ou officium)<br />
tem o seu fundamento em causae naturales. Veja-se em Quaestiones quodlibetales VII, art.<br />
17 c: “Haec autem diversificatio hominum in diversis officis contingit primo ex divina<br />
providentia, quae ita hominum status distribuit, (...) secundo etiam ex causis naturalibus,<br />
ex quibus contingit, quod in diversis hominibus sunt diversae inclinationes ad diversa<br />
officia (...)” {“Mas essa diversificação dos homens em diversos ofícios acontece em<br />
primeiro lugar por Providência divina, que assim distribui os estados dos homens, (...) em<br />
segundo lugar também por causas naturais, pelas quais simplesmente acontece que, em<br />
homens diversos, diversas inclinações haja para ofícios diversos (...)”}. [Exatamente a<br />
mesma coisa se passa com Pascal, quando ajuíza que é o acaso que decide a escolha da<br />
profissão (Sobre Pascal ver A. Köster, Die Ethik Pascals, 1907). Entre as éticas religiosas<br />
“orgânicas”, a única a se distinguir a esse respeito é a mais fechada de todas: a indiana].<br />
O contraste entre os conceitos de profissão tomista e protestante (mesmo na fase tardia<br />
de Lutero, já aparentado com o tomismo pela ênfase que passou a dar à Providência) é