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confrontar no geral com as observações acima.<br />
269. Assim Baxter na passagem supracitada (I, p. 108, infra).<br />
270. Ver por exemplo a conhecida descrição do Coronel Hutchinson (citada com<br />
frequência por Sanford, op. cit., p. 57) na biografia escrita pela viúva. Depois de descrever<br />
todas as suas virtudes cavalheirescas e sua natureza dada à alegria de viver, lê-se: “He was<br />
wonderfully neat, cleanly and genteel in his habit, and had a very good fancy in it; but he left<br />
off very early the wearing of anything that was costly (...)” {“Ele era de uma elegância<br />
maravilhosa, asseado e gentil em seus trajes, e fazia gosto em ser assim; mas muito cedo<br />
deixou de vestir o que quer que custasse caro (...)”} — Bastante análogo é o ideal da<br />
puritana de mente cosmopolita e maneiras refinadas, mesquinha apenas no tocante a<br />
duas coisas: 1) tempo e 2) despesas com “pompa” e diversão. Foi o que disse Baxter na<br />
oração fúnebre a Mary Hammer (Works of the Pur. Div., p. 533).<br />
271. Dentre muitos outros exemplos, lembro-me em especial de um industrial de<br />
extraordinário sucesso em sua vida de negócios e muito endinheirado na velhice que,<br />
acometido de insistentes achaques estomacais e tendo o médico lhe receitado saborear<br />
todos os dias algumas ostras, só com extrema relutância moveu-se a fazê-lo. Fundos<br />
consideráveis que ele em vida destinara a instituições com fins beneficentes e sua<br />
reconhecida “mão aberta” revelavam, por outro lado, que aquele episódio não tinha a ver<br />
com “avareza”, era pura e exclusivamente resquício daquela sensibilidade “ascética” que vê<br />
com reticências morais a fruição da fortuna pessoal.<br />
272. A separação entre oficina, escritório ou “negócio” de modo geral e a esfera<br />
domiciliar privada, entre o capital da firma e a fortuna pessoal — noutras palavras, entre<br />
a razão social e o nome da pessoa física — isso juntamente com a tendência a<br />
transformar a “empresa”, o patrimônio posto em sociedade, num corpus mysticum: tudo<br />
isso vai na mesma direção. Ver a respeito meu ensaio Para a história das sociedades<br />
comerciais na Idade Média.<br />
273. Em seu Kapitalismus (1 a ed.), Sombart já chamara a atenção para esse fenômeno<br />
característico. Resta entretanto notar que o mesmo [isto é, a acumulação de fortunas]<br />
procede de duas fontes psicológicas bem diversas. Uma delas lança raízes na Antiguidade<br />
mais remota e manifesta-se em fundações, bens de família, fideicomissos etc. de modo<br />
tão mais puro e nítido do que na ambição análoga de morrer carregado de bens<br />
materiais e, principalmente, assegurar a continuidade do “negócio”, mesmo que em<br />
prejuízo dos interesses pessoais da maioria dos filhos herdeiros. Em casos como esses,<br />
além do desejo de perpetuar-se a si mesmo através da própria criação numa vida ideal<br />
após a morte, está em jogo a preservação do splendor familiae {o brilho da família}, e<br />
portanto, a satisfação de uma vaidade que visa por assim dizer prolongar a<br />
personalidade do fundador — trata-se de fins egocêntricos, em suma. Não é desse feitio<br />
aquele motivo “burguês” com que estamos às voltas; aqui, o princípio ascético que reza:<br />
“deves renunciar, renunciar deves” é transposto nesta outra fórmula, capitalista e<br />
positiva: “deves lucrar, lucrar deves”, que em sua irracionalidade desponta pura e<br />
simplesmente feito imperativo categórico. Só a glória de Deus e o dever pessoal, não a<br />
vaidade pessoal, constituem para os puritanos motivo, hoje porém: somente o dever a