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A Etica Protestante E o Espirit - Max Weber

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característica de seu sistema ético. O “amor ao próximo”— já que só lhe é<br />

permitido servir à glória de Deus 34 e não à da criatura 35 — expressa-se em<br />

primeiro lugar no cumprimento da missão vocacional-profissional imposta pela<br />

lex naturae, e nisso ele assume um caráter peculiarmente objetivo-impessoal:<br />

trata-se de um serviço prestado à conformação racional do cosmos social que<br />

nos circunda. Pois conformar e endireitar em relação a fins esse cosmos, que<br />

segundo a revelação da Bíblia e também segundo a razão natural está<br />

manifestamente talhado a servir à “utilidade” do gênero humano, permitem<br />

reconhecer como o trabalho a serviço dessa utilidade social [impessoal]<br />

promove a glória de Deus e, portanto, por Deus é querido. [A eliminação total do<br />

problema da teodiceia e de todas as indagações sobre o “sentido” do mundo e da<br />

vida, em função das quais outros se dilaceravam, era para o puritano algo tão<br />

evidente por si só quanto o era — por razões bem diversas — para o judeu. E,<br />

aliás, também para a religiosidade cristã não mística, em certo sentido. No<br />

calvinismo, ainda um outro traço atuando na mesma direção contribuiu para<br />

essa economia de forças. A cisão entre o “indivíduo” e a “ética” (no sentido de<br />

Sören Kierkegaard) não se punha para o calvinismo, embora em matéria de<br />

religião ele deixasse o indivíduo entregue a si mesmo.] [Não é este o lugar de<br />

analisar as razões para isso, como também] não cabe analisar aqui a significação<br />

desses pontos de vista para o racionalismo político e econômico do calvinismo.<br />

Aí reside a fonte do caráter utilitário da ética calvinista, e daí igualmente<br />

advieram importantes peculiaridades da concepção calvinista de vocação<br />

profissional. 36 — Mas antes voltemos, mais uma vez, à consideração em especial<br />

da doutrina da predestinação.<br />

Ora, o problema para nós decisivo é antes de tudo: como foi suportada essa<br />

doutrina 37 numa época em que o Outro Mundo era não só mais importante,<br />

mas em muitos aspectos também mais seguro do que os interesses da vida neste<br />

mundo. 38 Uma questão impunha-se de imediato a cada fiel individualmente e<br />

relegava todos os outros interesses a segundo plano: Serei eu um dos eleitos? E<br />

como eu vou poder ter certeza dessa eleição? 39 Para Calvino pessoalmente, isso<br />

não era problema. Ele se sentia uma “ferramenta” de Deus e tinha certeza do seu<br />

estado de graça. Assim sendo, para a pergunta de como o indivíduo poderia<br />

certificar-se de sua própria eleição, no fundo ele tinha uma resposta só: que<br />

devemos nos contentar em tomar conhecimento do decreto de Deus e<br />

perseverar na confiança em Cristo operada pela verdadeira fé. Ele rejeita por<br />

princípio que nos outros se possa reconhecer, pelo comportamento, se são<br />

eleitos ou condenados, presunçosa tentativa de penetrar nos mistérios de Deus.

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