You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
característica de seu sistema ético. O “amor ao próximo”— já que só lhe é<br />
permitido servir à glória de Deus 34 e não à da criatura 35 — expressa-se em<br />
primeiro lugar no cumprimento da missão vocacional-profissional imposta pela<br />
lex naturae, e nisso ele assume um caráter peculiarmente objetivo-impessoal:<br />
trata-se de um serviço prestado à conformação racional do cosmos social que<br />
nos circunda. Pois conformar e endireitar em relação a fins esse cosmos, que<br />
segundo a revelação da Bíblia e também segundo a razão natural está<br />
manifestamente talhado a servir à “utilidade” do gênero humano, permitem<br />
reconhecer como o trabalho a serviço dessa utilidade social [impessoal]<br />
promove a glória de Deus e, portanto, por Deus é querido. [A eliminação total do<br />
problema da teodiceia e de todas as indagações sobre o “sentido” do mundo e da<br />
vida, em função das quais outros se dilaceravam, era para o puritano algo tão<br />
evidente por si só quanto o era — por razões bem diversas — para o judeu. E,<br />
aliás, também para a religiosidade cristã não mística, em certo sentido. No<br />
calvinismo, ainda um outro traço atuando na mesma direção contribuiu para<br />
essa economia de forças. A cisão entre o “indivíduo” e a “ética” (no sentido de<br />
Sören Kierkegaard) não se punha para o calvinismo, embora em matéria de<br />
religião ele deixasse o indivíduo entregue a si mesmo.] [Não é este o lugar de<br />
analisar as razões para isso, como também] não cabe analisar aqui a significação<br />
desses pontos de vista para o racionalismo político e econômico do calvinismo.<br />
Aí reside a fonte do caráter utilitário da ética calvinista, e daí igualmente<br />
advieram importantes peculiaridades da concepção calvinista de vocação<br />
profissional. 36 — Mas antes voltemos, mais uma vez, à consideração em especial<br />
da doutrina da predestinação.<br />
Ora, o problema para nós decisivo é antes de tudo: como foi suportada essa<br />
doutrina 37 numa época em que o Outro Mundo era não só mais importante,<br />
mas em muitos aspectos também mais seguro do que os interesses da vida neste<br />
mundo. 38 Uma questão impunha-se de imediato a cada fiel individualmente e<br />
relegava todos os outros interesses a segundo plano: Serei eu um dos eleitos? E<br />
como eu vou poder ter certeza dessa eleição? 39 Para Calvino pessoalmente, isso<br />
não era problema. Ele se sentia uma “ferramenta” de Deus e tinha certeza do seu<br />
estado de graça. Assim sendo, para a pergunta de como o indivíduo poderia<br />
certificar-se de sua própria eleição, no fundo ele tinha uma resposta só: que<br />
devemos nos contentar em tomar conhecimento do decreto de Deus e<br />
perseverar na confiança em Cristo operada pela verdadeira fé. Ele rejeita por<br />
princípio que nos outros se possa reconhecer, pelo comportamento, se são<br />
eleitos ou condenados, presunçosa tentativa de penetrar nos mistérios de Deus.