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A Etica Protestante E o Espirit - Max Weber

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226. Baxter, op. cit., I, p. 377.<br />

227. Mas nem por isso ela é algo historicamente derivado deles. Antes, exprime-se aí<br />

toda a representação genuinamente calvinista segundo a qual o cosmos do “mundo”<br />

serve à glória de Deus, à sua autocelebração. A virada utilitária, segundo a qual o cosmos<br />

econômico deve servir ao objetivo de manter a vida de todos (good of the many, common<br />

good etc.), era consequência da ideia de que toda outra interpretação conduzia a uma<br />

(aristocrática) divinização da criatura ou, quando menos, não servia à glória de Deus, e<br />

sim a “fins culturais” próprios de criatura. Só que a vontade de Deus, tal como expressa<br />

na configuração teleológica do cosmos econômico (ver a precedente nota 35), pode<br />

querer, na medida em que entram em consideração os fins deste mundo terreno, apenas<br />

o bem da “coletividade”, ou seja, a “utilidade” impessoal. O utilitarismo, então, como já<br />

dissemos antes, é consequência da configuração impessoal do “amor ao próximo” e da<br />

recusa de toda glorificação do mundo com base na exclusividade do princípio puritano<br />

in majorem Dei gloriam. Pois a intensidade com que no conjunto do protestantismo<br />

ascético dominava a ideia: de que toda glorificação da criatura ofende a glória de Deus,<br />

sendo por isso incondicionalmente condenável, mostra-se claramente nos escrúpulos e<br />

na dificuldade que sentia o próprio Spener, a bem dizer em nada bafejado pelos ares<br />

“democráticos”, em sustentar, diante das incontáveis interpelações, que o uso de títulos<br />

era adiáphoron {indiferente}. Ele acabou recuperando a tranquilidade ao constatar que<br />

mesmo na Bíblia o pretor Festo é tratado pelo apóstolo com o título de krátistos {o<br />

potentíssimo}. — O aspecto político da coisa não cabe abordar [neste contexto].<br />

228. “The inconstant man is a stranger in his own house”{“O homem inconstante é um<br />

estranho em sua própria casa”},diz também Th. Adams (Works of the Pur. Div., p. 77).<br />

229. Ver a respeito especialmente as declarações de George Fox em The Friends’ Library<br />

(ed. W. & Th. Evans, Filadélfia, 1837 ss., vol. I, p. 130).<br />

230. [Além disso, é claro, essa inflexão da ética religiosa não pode em nenhuma<br />

hipótese ser vista como reflexo das relações econômicas existentes. A especialização<br />

profissional na Idade Média italiana estava naturalmente mais avançada do que na<br />

Inglaterra daquele período.]<br />

231. Pois Deus — conforme se ressalta com muita frequência na literatura puritana —<br />

jamais ordenou que se deva amar o próximo mais que a si mesmo, mas sim como a si<br />

mesmo. Daí que o ser humano tem também o dever do amor-próprio. Aquele que sabe,<br />

por exemplo, que emprega sua propriedade com metas mais úteis e portanto para maior<br />

honra de Deus do que o seu próximo seria capaz de fazer, não está obrigado por amor<br />

ao próximo a partilhá-la com ele.<br />

232. O próprio Spener aproxima-se dessa posição. Mas mesmo quando se trata da<br />

passagem de uma profissão comercial (moralmente das mais perigosas) para a teologia,<br />

Spener permanece extremamente reticente e dissuasivo (III, pp. 435, 443, I, p. 524). A<br />

recorrência da resposta a essa precisa pergunta (se é lícita a troca de profissão) nos<br />

pareceres naturalmente mui ponderados de Spener revela, diga-se de passagem, o<br />

alcance eminentemente prático que tinham na vida cotidiana as diversas maneiras de<br />

interpretar 1Cor 7.

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