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A Etica Protestante E o Espirit - Max Weber

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apoio conceitual desse surpreendente “diletante da religião”, como o chama<br />

Ritschl. 133 Ele próprio se disse, repetidas vezes, representante do “tropo paulinoluterano”<br />

contra o “tropo jacobista-pietista”, que permanecia apegado à Lei.<br />

Entretanto, a própria comunidade dos irmãos hernutos e sua práxis, as quais ele<br />

acabou por admitir e que fomentou apesar do seu luteranismo explícito,<br />

profissão de fé que recorrentemente fazia, 134 adotavam já em seu protocolo<br />

notarial de 12 de agosto de 1729 uma posição que, em muitos aspectos,<br />

correspondia perfeitamente à aristocracia calvinista dos santos. 135 A<br />

discutidíssima atribuição do cargo de decano a Cristo, em 12 de novembro de<br />

1741, ilustrava expressamente algo parecido, inclusive no aspecto externo. Dois<br />

dos três “tropos” da fraternidade, além do mais, o calvinista e o morávio,<br />

orientaram-se desde o início pela ética profissional calvinista. Zinzendorf ele<br />

mesmo retorquiu a John Wesley, bem ao modo puritano, que, se nem sempre o<br />

próprio justificado era capaz de reconhecer sua justificação, outros com certeza<br />

poderiam fazê-lo pela espécie de sua conduta. 136 Por outro lado, no entanto, o<br />

fator sentimento ganhou plano de proeminência na devoção especificamente<br />

hernutense, e Zinzendorf pessoalmente procurou sempre mais, digamos,<br />

interceptar em sua fraternidade a tendência à santificação ascética em sentido<br />

puritano 137 e infletir a santificação pelas obras para moldes luteranos. 138<br />

Desenvolveu-se ademais sob o influxo da condenação dos conventículos e da<br />

manutenção da prática da confissão, uma ligação de inspiração essencialmente<br />

luterana com a mediação sacramental da salvação. Isso porque o próprio<br />

princípio especificamente zinzendorfiano, segundo o qual a infantilidade do<br />

sentimento religioso era marca de sua autenticidade (assim como, por exemplo,<br />

o recurso à leitura da sorte como meio de revelação da vontade divina), agiu com<br />

tal veemência contra o racionalismo da conduta de vida que, no conjunto, até<br />

onde alcançava a influência do conde, 139 os elementos antirracionais,<br />

sentimentais, prevaleceram na espiritualidade da comunidade de Hernhut muito<br />

mais do que no resto do pietismo, aliás. 140 O vínculo entre moralidade e perdão<br />

dos pecados na idea fidei fratrum de Spangenberg é tão frouxo 141 quanto no<br />

luteranismo de modo geral. A rejeição zinzendorfiana da busca da perfeição ao<br />

estilo metodista corresponde — aqui como em tudo o mais — a seu ideal no<br />

fundo eudemonista de permitir aos homens, já no presente, 142 experimentar<br />

sentimentalmente a bem-aventurança eterna (a “felicidade”, como ele diz), em<br />

vez de instruí-los a adquirir pelo trabalho racional a certeza de ir gozá-la no<br />

Outro Mundo. 143 Por outro lado, a ideia de que o valor decisivo da comunidade<br />

de irmãos, à diferença de outras igrejas, residia na intensidade de uma vida cristã

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