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A Etica Protestante E o Espirit - Max Weber

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certamente foram desenvolvidas ainda sob influência da ascese calvinista, com a<br />

qual depararam as seitas anabatistas na Inglaterra e nos Países Baixos, e cuja<br />

apropriação internalizada, levada a sério, tomou conta da pregação de G. Fox em<br />

toda a primeira fase de sua atividade missionária.<br />

Mas psicologicamente — visto que eles condenavam a doutrina da<br />

predestinação — o caráter especificamente metódico da moralidade dos<br />

anabatistas repousava antes de tudo na ideia de “espera perseverante” pela ação<br />

do Espírito, que ainda hoje imprime seu cunho ao meeting quaker e foi<br />

lindamente analisada por Barclay: finalidade dessa perseverança, que deve ser<br />

silenciosa, é triunfar do quanto há de instintivo e irracional em cada um,<br />

triunfar das paixões e subjetividades do homem “natural”; por isso ele deve<br />

calar-se, a fim de criar na alma silêncio profundo, que só no silêncio Deus pode<br />

vir a falar. Claro, a ação dessa “espera perseverante” podia desembocar em<br />

estados histéricos, profecias e, enquanto persistissem esperanças escatológicas,<br />

por vezes até mesmo numa explosão de entusiasmo [quiliástico], [como é<br />

possível ocorrer em todas as modalidades de piedade fundamentadas de modo<br />

similar] e que de fato ocorreu naquela corrente que acabou exterminada em<br />

Münster. Mas quando o anabatismo se carreou para vida profissional mundana<br />

normal, a ideia de que Deus fala somente quando a criatura se cala passou a ter<br />

claramente o sentido de educar para uma ponderação serena da ação, orientada<br />

por um cuidadoso exame de consciência individual. 185 Esse caráter sereno,<br />

sóbrio e sobretudo consciencioso foi então adotado também pela práxis vital das<br />

comunidades anabatistas mais tardias, mui especificamente a dos quakers. [O<br />

radical desencantamento do mundo não deixava interiormente outro caminho a<br />

seguir a não ser a ascese intramundana. Para comunidades que não quisessem<br />

ter nada a ver com os poderes políticos e seu quefazer, daí resultou,<br />

externamente mesmo, que essas virtudes ascéticas confluíram para o trabalho<br />

profissional.] Enquanto os líderes do movimento anabatista dos primódios<br />

haviam sido de um radicalismo brutal em seu divórcio do mundo, é natural que<br />

já na primeira geração a conduta de vida estritamente apostólica não mais fosse<br />

considerada necessariamente por todos como indispensável para dar prova de<br />

regeneração. A essa geração já pertenciam elementos burgueses endinheirados e,<br />

mesmo antes de Menno, que fincou bem o pé no terreno da virtude profissional<br />

intramundana e na ordem da propriedade privada, o estrito rigor moral dos<br />

anabatistas já se havia voltado em termos práticos a esse leito aberto pela ética<br />

reformada {calvinista}, 186 justamente porque desde Lutero, a quem nesse ponto<br />

até os anabatistas seguiram, estava fora de cogitação caminhar para a forma

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