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A Etica Protestante E o Espirit - Max Weber

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condições do sucesso capitalista, ou afunda ou não sobe.] Mas esses são<br />

fenômenos de uma época na qual o capitalismo [moderno], agora vitorioso, já se<br />

emancipou dos antigos suportes. Assim como um dia, em aliança apenas com o<br />

poder do Estado moderno em formação, ele rompeu as antigas formas de<br />

regulamentação econômica medieval, esse também poderia ter sido o caso —<br />

digamos provisoriamente — em suas relações com os poderes religiosos. Se e<br />

em qual sentido esse foi de fato o caso, isso é o que cabe aqui pesquisar.<br />

Porquanto mal carece de prova o fato de que aquela concepção de ganhar<br />

dinheiro como um fim em si mesmo e um dever do ser humano, como<br />

“vocação”, repugnava à sensibilidade moral de épocas inteiras. Na sentença Deo<br />

placere vix potest, usada para a atividade do mercador [incorporada ao direito<br />

canônico e de início tida por autêntica (tal como a passagem do Evangelho que<br />

fala de juro), 50 assim como na designação turpitudo aplicada por Tomás de<br />

Aquino à ambição de ganho (o lucro, uma vez inevitável, é lícito eticamente e,<br />

portanto, autorizado)], começava a aparecer, em contraste com as opiniões<br />

radicalmente anticrematistas de círculos bastante amplos, um grau mais elevado<br />

de condescendência da doutrina católica para com os interesses das potências<br />

financeiras das cidades italianas, 51 que mantinham com a Igreja laços políticos<br />

estreitos. E mesmo quando a doutrina se fez ainda mais conciliadora, como por<br />

exemplo em Antonino de Florença, jamais deixou de existir a sensação de que a<br />

atividade dirigida para o lucro como um fim em si fosse basicamente um<br />

pudendum que só as injunções prementes da vida constrangiam a tolerar.<br />

[Alguns moralistas da época, em particular da escola nominalista, aceitavam<br />

como um dado os esboços já bem desenvolvidos de formas capitalistas nos<br />

negócios e procuravam — não sem enfrentar contraditores — dá-los por lícitos,<br />

aceitando sobretudo que o comércio era necessário, que a industria que neles se<br />

desenvolvia era uma fonte de ganhos legítima e eticamente inatacável, mas a<br />

doutrina dominante repudiava o “espírito” do lucro capitalista como turpitudo<br />

ou pelo menos não conseguia valorá-lo como eticamente positivo.] Uma visão<br />

“moral” análoga à de Benjamin Franklin teria sido pura e simplesmente<br />

impensável. Essa era antes de mais nada a concepção partilhada pelos próprios<br />

círculos [capitalistas] implicados: seu trabalho na vida [enquanto eles<br />

estivessem fincados no terreno da tradição eclesiástica] era considerado, quando<br />

muito, algo de moralmente indiferente, tolerado, mas ainda assim, já pelo<br />

constante perigo de colidir com a proibição da usura pela Igreja, algo de<br />

inconveniente para a bem-aventurança da alma: como atestam as fontes, por<br />

ocasião da morte de pessoas endinheiradas somas formidáveis afluíam para os

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