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A Etica Protestante E o Espirit - Max Weber

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história. Mas para que desde já não surjam mal-entendidos quanto ao sentido<br />

em que aqui se afirma semelhante eficácia de motivos puramente ideais, que<br />

nos seja permitido acrescentar a propósito umas poucas indicações, como<br />

conclusão dessas discussões preliminares.<br />

Esses estudos — vale notar explicitamente, antes de mais nada — não são de<br />

modo algum uma tentativa de valorar o conteúdo conceitual da Reforma, seja<br />

em que sentido for, político-social ou religioso. De olho em nossos objetivos,<br />

estamos sempre às voltas com aspectos da Reforma que hão de parecer<br />

periféricos e mesmo exteriores à consciência propriamente religiosa. Porque<br />

justamente o que nos cabe é tornar um pouco mais nítido o impacto que os<br />

motivos religiosos, dentre os inúmeros motivos históricos individuais, tiveram<br />

na trama do desenvolvimento da nossa cultura moderna especificamente<br />

voltada para “este mundo”. Assim, dentre certos conteúdos característicos dessa<br />

cultura, perguntamos unicamente quais são os que podem ser atribuídos ao<br />

influxo da Reforma, pensado como causa histórica. Para tanto, porém, temos de<br />

nos emancipar da seguinte visão: que se pode deduzir a Reforma das<br />

transformações econômicas como algo “necessário em termos de<br />

desenvolvimento histórico”. Inumeráveis constelações históricas, que não<br />

apenas não se encaixam em nenhuma “lei econômica” nem de modo geral em<br />

nenhum ponto de vista econômico da espécie que for, em particular os<br />

processos puramente políticos, tiveram de agir conjuntamente a fim de que as<br />

igrejas recém-criadas conseguissem de algum modo sobreviver. Mas, por outro<br />

lado, não se deve de forma alguma defender uma tese tão disparatadamente<br />

doutrinária 84 que afirmasse por exemplo: que o “espírito capitalista” (sempre no<br />

sentido provisório dado ao termo aqui) pôde surgir somente como resultado de<br />

determinados influxos da Reforma [ou até mesmo: que o capitalismo enquanto<br />

sistema econômico é um produto da Reforma]. Só o fato de certas formas<br />

importantes de negócio capitalista serem notoriamente mais antigas que a<br />

Reforma impede definitivamente uma visão como essa. Trata-se apenas de<br />

averiguar se, e até que ponto, influxos religiosos contribuíram para a cunhagem<br />

qualitativa e a expansão quantitativa desse “espírito” mundo afora, e quais são os<br />

aspectos concretos da cultura assentada em bases capitalistas que remontam<br />

àqueles influxos. Em face da enorme barafunda de influxos recíprocos entre as<br />

bases materiais, as formas de organização social e política e o conteúdo espiritual<br />

das épocas culturais da Reforma, procederemos tão só de modo a examinar de<br />

perto se, e em quais pontos, podemos reconhecer determinadas “afinidades<br />

eletivas” entre certas formas da fé religiosa e certas formas da ética profissional.

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