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A Etica Protestante E o Espirit - Max Weber

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intensidade e uma coerência interna sem par] ao princípio de que só os pessoalmente<br />

regenerados podiam ser acolhidos na congregação eclesial — daí abominarem todo<br />

caráter “de instituição” da Igreja e toda ingerência do poder temporal. Aqui também foi<br />

um motivo religioso-positivo que ocasionou a exigência de tolerância incondicional. [A<br />

primeira pessoa que, uma geração ou quase isso antes dos batistas, duas gerações antes<br />

de Roger Williams, defendeu por semelhantes motivos a tolerância incondicional e a<br />

separação entre Estado e Igreja foi John Browne. A primeira declaração de uma<br />

congregação eclesial nesse sentido parece ter sido a resolução dos batistas ingleses em<br />

Amsterdã de 1612 ou 1613: “the magistrate is not to meddle with religion or matters of<br />

conscience (...) because Christ is the King and lawgiver of the Church and conscience” {não é<br />

para o magistrado se misturar com religião ou assuntos de consciência (...) porque<br />

Cristo é o Rei e o legislador da Igreja e da consciência}. O primeiro documento oficial de<br />

uma comunidade religiosa exigindo como direito a proteção positiva da liberdade de<br />

consciência por parte do Estado foi o art. 44 da Confession of the (Particular) Baptists de<br />

1644. — Note-se mais uma vez expressamente que é de todo equivocada a opinião por<br />

vezes defendida de que a tolerância como tal favoreceu o capitalismo. Tolerância religiosa<br />

não é nada de especificamente moderno ou ocidental. Na China, na Índia, nos grandes<br />

impérios da Ásia anterior na época do helenismo, no império romano, nos impérios<br />

islâmicos, ela reinou por longos períodos com uma abrangência tal — só limitada por<br />

motivos de razão de Estado (os quais ainda hoje a limitam!) — que jamais se viu em<br />

parte alguma do mundo nos séculos XVI e XVII, e muito menos nas regiões onde o<br />

puritanismo era dominante, como por exemplo na Holanda e na Zelândia na época de<br />

sua ascensão econômico-política, ou ainda na Velha e na Nova Inglaterra puritanas. O<br />

que caracterizava o Ocidente — antes como depois da Reforma, à semelhança por<br />

exemplo do império dos sassânidas — era precisamente a intolerância religiosa, tal como<br />

na China, no Japão, na Índia em épocas esparsas, mas quase sempre por motivos<br />

políticos. Segue-se, portanto, que a tolerância como tal com certeza não tem nada a ver<br />

com o capitalismo. Tudo depende disto: a quem ela beneficiou. — Sobre as consequências<br />

disso para a exigência da believers’ Church tornaremos a falar no ensaio sobre “As seitas<br />

protestantes e o espírito do capitalismo”.]<br />

112. Em sua aplicação prática, essa ideia manifesta-se por exemplo com os tryers de<br />

Cromwell, isto é, os examinadores dos candidatos ao cargo de pregador. Eles procuravam<br />

não tanto averiguar a formação teológica especializada, mas sim o estado de graça<br />

subjetivo do candidato. Ver ainda meu ensaio sobre “As seitas protestantes...”<br />

113. [A desconfiança característica que o pietismo nutria por Aristóteles, e pela<br />

filosofia clássica de modo geral, já estava latente em Calvino (cf. Institutio christ. rel., II,<br />

cap. 2, p. 4; III, cap. 23, p. 5; IV, cap. 17, p. 24). Ela não era menor em Lutero quando de<br />

seus primeiros passos, isso se sabe, mas cedo foi abandonada devido à influência dos<br />

humanistas (em particular de Melanchthon) e às necessidades imperiosas do ensino<br />

escolar e da apologética. Que o necessário para a bem-aventurança estivesse contido na<br />

Escritura com clareza suficiente inclusive para ignorantes, ensinava-o também a<br />

Confissão de Westminster (cap. I, p. 7), em harmonia com as tradições protestantes.]

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