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A Etica Protestante E o Espirit - Max Weber

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{“Aqueles que buscam ansiosos a riqueza mundana desprezam a própria alma, não<br />

apenas porque a negligenciam, dando preferência ao corpo, mas porque a empregam<br />

nessas buscas: Salmo 127(126), 2”} . (Mas na mesma página encontra-se a observação a<br />

ser citada mais adiante sobre a pecaminosidade de qualquer espécie de perda de tempo,<br />

especialmente em recreations.) Idem em toda a literatura religiosa do puritanismo angloholandês.<br />

Ver por exemplo a filípica de Hoornbeck contra a avaritia {avareza} (op. cit., 1,<br />

X, caps. 18 e 19). (Nesse escritor, aliás, operam também influências pietistas<br />

sentimentalistas: ver o elogio da tranquillitas animi {tranquilidade de ânimo} que agrada<br />

a Deus em oposição à sollicitudo {inquietação} deste mundo.) “Não é fácil um rico<br />

alcançar a bem-aventurança”, escreve também Bailey (op. cit., p. 182), apoiando-se numa<br />

conhecida passagem bíblica. Os catecismos metodistas também desaprovam que “se<br />

acumulem tesouros na terra”. No pietismo isso fica evidente por si mesmo. E entre os<br />

quakers o quadro não era outro. Ver Barclay, op. cit., p. 517: “(...) and therefore beware of<br />

such temptation as to use their callings and engine to be richer” {“(...) e, portanto, há que se<br />

prevenir contra a tentação de empregar profissões e engenho com o propósito de<br />

enriquecer”.}.<br />

201. [Com efeito, não só a riqueza, mas também a compulsiva ambição de ganho (ou<br />

coisa que o valha) era focadamente condenada. Nos Países Baixos, em resposta a uma<br />

interpelação, explicou o sínodo sul-holandês de 1574 que os “lombardos” não podiam<br />

ser admitidos à santa ceia, mesmo que seu negócio fosse exercido dentro dos limites da<br />

lei; o sínodo provincial de Deventer de 1598 (art. 24) estendeu tal proibição aos<br />

empregados dos “lombardos”; o sínodo de Gorichem de 1606 estatuiu as condições,<br />

duras e humilhantes, sob as quais as mulheres de “usurários” poderiam ser admitidas; e<br />

ainda em 1644 e 1657 era discutido se cabia admitir os lombardos à santa ceia (diga-se<br />

isso explicitamente contra Brentano, que cita seus ancestrais católicos — embora em<br />

todo o mundo asiático-europeu existam há milênios comerciantes e banqueiros de<br />

origem estrangeira); e mesmo Gisbert Voët (Disp. theol., IV, Anst. 1667, De usuris, p. 665)<br />

tencionava excluir da santa ceia os “trapezitas” (lombardos, piemonteses). Nos sínodos<br />

huguenotes não foi diferente. Camadas capitalistas desse feitio não eram absolutamente<br />

os portadores típicos da disposição e da conduta de vida de que se trata aqui. E também<br />

não eram nenhuma novidade em relação à Antiguidade e à Idade Média.]<br />

202. Ideia amplamente desenvolvida no capítulo X do Saints’ Everlasting Rest: quem<br />

quiser ficar descansando longamente no “albergue” que Deus lhe dá, que são as posses,<br />

por Ele é castigado já nesta vida. O lauto repouso em cima da riqueza adquirida quase<br />

sempre é prenúncio de ruína. — Pergunta-se: Se tivéssemos tudo quanto poderíamos ter<br />

no mundo, isso já seria tudo o que esperaríamos ter? Satisfação plena e cabal não se<br />

alcança aqui na terra — justamente porque, por vontade de Deus, ela não deve existir.<br />

203. Christ. Dir., I, pp. 375-6: “It is for action that God maintaineth us and our activities:<br />

work is the moral as well as the natural end of power. (...) It is action that God is most served<br />

and honoured by. (...) The public welfare or the good of many is to be valued above our own”<br />

{“É para a ação que Deus nos mantém, a nós e a nossas atividades: o trabalho é o fim<br />

moral e natural do poder. (...) É com a ação que Deus é melhor servido e honrado. (...)

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