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conduta de vida ascética racional. A exaltação ética que dele se faz é bastante moderna.<br />
Não entraremos aqui na significação desta e de outras declarações análogas para a<br />
questão do condicionamento de classe da ascese.<br />
212. Tomem-se por exemplo as seguintes passagens (op. cit., pp. 336ss.): “Be wholly<br />
taken up in diligent business of your lawful callings when you are not exercised in the more<br />
immediate service of God”. — “Labour hard in your callings”. — “See that you have a calling<br />
which will find you employment for all the time which Gods immediate service spareth”.<br />
{“Dedicai-vos com total zelo ao exercício de vossas legítimas profissões, se não sois<br />
versados no serviço mais imediato a Deus”. — “Trabalhai duro em vossas profissões”. —<br />
“Cuida para que tenhas uma vocação que te ocupe por todo o tempo não empregado no<br />
serviço imediato de Deus”.}.<br />
213. Ainda recentemente Harnack tornou a ressaltar que a valorização<br />
especificamente ética do trabalho e de sua “dignidade” não era uma ideia originária nem<br />
tampouco característica do cristianismo (Mitt. des Ev.-Soz. Kongr., série 14, 1905, n o 3/4 p.<br />
48).<br />
214. Assim também no pietismo (Spener, op. cit., pp. 429-30). A maneira<br />
caracteristicamente pietista é: a fidelidade à profissão, que nos é imposta como castigo<br />
pelo pecado original, serve para a mortificação da vontade própria. O trabalho numa<br />
profissão, como serviço prestado de amor ao próximo, é um dever de gratidão pela graça<br />
divina (eis uma representação luterana!), e por isso não é agradável a Deus se for<br />
executado a contragosto e com fastio (op. cit., III, p. 272). Portanto, o cristão “mostrar-seá<br />
tão assíduo em seu trabalho como alguém do mundo” (III, p. 278). Isso,<br />
evidentemente, está aquém do modo de ver puritano.<br />
215. [No que se baseia esse importante contraste, que existe claramente desde a Regra<br />
de São Bento, isso só um estudo de proporções mais vastas poderá indicar.]<br />
216. “A sober procreation of children” {Uma sóbria procriação de filhos}, escreve Baxter, é<br />
a sua finalidade. Assim também faz Spener, muito embora com concessões à opinião<br />
luterana mais tosca, segundo a qual seu fim secundário é evitar a imoralidade, aliás<br />
irreprimível. A concupiscência, como fenômeno que acompanha o coito, é pecado<br />
mesmo dentro do casamento e, segundo a concepção de Spener, por exemplo, ela não é<br />
outra coisa senão consequência do pecado original, que transformou um processo que é<br />
natural e querido por Deus em algo inevitavelmente ligado a sensações pecaminosas e,<br />
portanto, num pudendum {algo que dá vergonha}. Também para muitas correntes<br />
pietistas, a forma suprema de casamento cristão é aquela em que se preserva a<br />
virgindade, a segunda é aquela na qual o intercurso sexual visa exclusivamente à<br />
procriação e assim por diante, descendo até aqueles matrimônios contraídos por razões<br />
puramente eróticas ou materiais, eticamente considerados concubinato. Nessas<br />
categorias inferiores, o matrimônio contraído por motivos puramente materiais (na<br />
medida em que provém, apesar de tudo, de um cálculo racional) acaba preferido ao<br />
casamento eroticamente motivado. A teoria e a prática dos irmãos hernutenses podem<br />
aqui ser deixadas de lado. A filosofia racionalista (Christian Wolff) retoma a teoria<br />
ascética naquela versão segundo a qual não se pode converter num fim em si aquilo que